Leonor Bianchi
Aos 93 anos, com mais de 73 de choro, o pedreiro aposentado e músico autodidata Otaviano do Monte, o Chocho, recebeu, em agosto último, o título de Patrimônio Vivo do estado de Pernambuco. A premiação é feita anualmente pelo Governo do Estado de Pernambuco.
O reconhecimento do compositor de mais de 100 choros e frequentador das mais tradicionais rodas de choro de Recife, é também o reconhecimento do Choro como produção cultural popular pernambucana e brasileira, e que tem nas ‘rodas’ (as rodas de choro) as raízes que mantêm o gênero e a tradição do choro vivos.
Em 2015, Chocho foi homenageado pelo Sesc Pernambuco, no Dia Nacional do Choro; em 2016, o bandolinista recebeu outra homenagem; desta vez no Festival de Choro de Recife. Este ano, em abril, no projeto ‘Recife Carinhoso’, Chocho foi declarado Patrimônio do Choro Pernambucano.
Um autêntico chorão criado nas rodas
Sem nunca frequentar uma escola de música, Chocho teve curiosidade pelo violão, e foi através deste instrumento que iniciou seus estudos musicais. Do violão, passou a estudar cavaquinho e do cavaquinho teve curiosidade de conhecer o o bandolim, instrumento que escolheu para ser seu companheiro nas rodas.
Chocho tem mais de 100 composições (para violão e bandolim). Passou mais de 30 anos frequentando uma roda tradicional em Recife, o ‘Quintal do Cosme’, um reduto de choro que reuniu muitos instrumentistas entre os anos de 1970 e o início dos anos 2000. Lá, Chocho tocou durante essas três décadas e, findando as atividades do Quintal com a morte do Cosme, dono da casa onde ficava o quintal, o bandolinista passou a tocar em outra roda que acabaria também se tornando tão tradicional quanto as do quintal; as rodas de choro do ‘Nosso quintal’. Durante 16 anos Chocho tocou nas rodas desse espaço.
Com todo esse cabedal, apenas de um tempo para cá é que a ‘verve’ de Chocho vem ganhando merecida visibilidade.
“Mestre no sentido exato da palavra, Chocho é aquela pessoa que tem sabedoria, que inspira, que serve de exemplo e ensina com toda humildade possível. Uma pessoa que vive para a música o choro. Ele diz que o choro é o feijão e o arroz dele, por isso que ele está vivo”, diz Wagner Stanten, produtor cultural pernambucano e com quem conversei a respeito da diplomação de Choro como Patrimônio da Cultura Popular Pernambucana.
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