As cinco gerações do choro: de Mesquitinha a Severino Araújo


Leonor Bianchi

A primeira geração do choro (1870 – 1889) corresponde ao abrasileiramento e à popularização das polcas, das quais Henrique Alves de Mesquita era um grande expoente na composição, harmonizando-as para grande orquestra. Já Joaquim Antônio da Silva Calado preocupava-se somente com a linha melódica, deixando aos violões e ao cavaquinho o acompanhamento, vazado, portanto em moldes popularescos. Além de Mesquitinha e Calado, outro grande compositor e instrumentista deste período foi Viriato Figueira da Silva, flautista e compositor de muitas polcas também (1851 – 1883), e os pianistas Ernesto Nazaré (1863 – 1934), conhecido como ‘fixador do tango brasileiro’ e Chiquinha Gonzaga (1847 – 1935).

Foi o tango brasileiro de Nazareth que fez surgir a coreografia do maxixe, a dança excomungada, como dizia o jornalista J.F.G.

Nazareth foi responsável por transpor para seu instrumento, o piano, o ambiente sonoro da flauta, do cavaquinho e dos violões. A este período pertencem os clássicos ‘Corta jaca’, de Chiquinha Gonzaga Apanhei-te cavaquinho e Brejeiro, de Nazareth, ‘Batuque’, de Henrique Alves de Mesquita; músicas até hoje interpretadas em muitas rodas de choro mundo à fora.

A segunda geração do choro

O recorte que define a segunda geração do choro vai de 1889 a 1919 e tem como maior expoente o primeiro maestro da Banda do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro e seu fundador Anacleto de Medeiros, que viveu entre 1866 e 1907. Compositor das schots ‘Iara’ e ‘Santinha’, também compôs muitas poucas e valsas. Sua composição mais popular chama-se ‘Os Boêmios’. Anacleto de Medeiros é conhecido como o maestro que levou o choro para o ambiente das bandas.

A segunda geração do choro compreende um período em que viveram nomes como

K-ximbinho, Irineu de Almeida, Candinho Silva, Juca kaluti, Mário Alves…

Dois aspectos marcam este período: o fato de os chorões amadores e residentes nos subúrbios da cidade, tocarem em festas de família tendo como remuneração uma mesa farta de comes e bebes. Enquanto a mesa estivesse posta e com bastante comida a música seguia a todo vapor. O outro aspecto é que até o início da primeira Guerra Mundial quem gravava e tocava choro eram as bandas civis ou militares. Neste período, o choro foi sendo substituindo por peças de música clássica oriundas da Europa.

Zequinha de Abreu, autor de ‘Tico-tico no fubá’ e da valsa ‘Branca’, assim como Lourival Inácio de Carvalho, o Louro, líder do Grupo do Louro e autor do choro ‘Urubu malandro’ a quem muitos atribuem ser de origem desconhecida do folclore popular, foram dois expoentes deste período.

A quarta geração do choro

Compreendida entre os anos de 1930 e 1945 a quarta geração do choro tem como ícones Aníbal Augusto A, mais conhecido como Garoto, multi-instrumentista de cordas, que viajou para fora do Brasil levando o nome do choro e do violão brasileiro para países que ainda não conheciam a nossa música; Dilermando Reis, Armandinho Neves, Nicolino Cópia, o Copinha, Luperce Miranda, Jacob do Bandolim, Claudionor Cruz, Rogério Guimarães, Dante Santoro, Benedito Lacerda e tantos outros.

A quinta geração do choro

O pesquisador Ary Vasconcelos, além dessas quatro gerações diz que houve uma quinta geração do choro compreendida entre os anos de 1945 e 1975.

Foi neste período que surgiu a Orquestra de Severino Araújo e que Pixinguinha trocou o saxofone tenor e passou a tocar flauta formando dupla com Benedito Lacerda; talvez a dupla mais famosas de choro da qual se tem notícia. K-ximbinho, autor do choro ‘Sonoroso’, Abel Ferreira, compositor de ‘Chorando baixinho’, Sivuca, Chiquinho do Acordeon, Avena de Castro, Joel Nascimento, Déo Rian, Isaías Bueno, Rossini Ferreira e Evandro do Bandolim são nomes importantes desta geração do choro.

A quinta geração do creme como marco a semana Jacob do Bandolim no Museu da Imagem e do Som promovida por Ary Vasconcelos.

Neste período, Mozart de Araújo forma o primeiro clube do choro do Rio de Janeiro, e rapidamente a iniciativa foi se multiplicando por todo o Brasil.

A década de 1970 é movimentada e marcada pela defesa do choro enquanto gênero musical originalmente brasileiro. Foi neste período em que Paulinho da Viola aparece com diversos festivais que convidam o público a se aproximar do gênero afastado das rádios e das gravadoras e consequentemente também das planteias.

Regionais como Os Carioquinhas que revelaram os irmãos Raphael Rabello e Luciana Rabello; a Camerata Carioca de Radamés Gnattali; Baden Powell, Maurício Carrilho e João de Aquino, três violonistas formados por Jaime Florence, o grande Meira, violonistas pernambucano, que além de formar inúmeros violonistas para MPB juntamente com Dino 7 Cordas, esteve presente em mais da metade do que foi produzido no choro desde a década de 1930, quando surgiram os três como membros do Regional de Benedito Lacerda.

O final dos anos de 1970 também é marcado pelo surgimento de regionais que vão dar fôlego ao retorno do choro nas apresentações culturais Brasil à dentro. Noites cariocas Carinhoso, Galo Preto, Nó em pindo d’água, Sarau, Choro na feira, Madeira Brasil, Dobrando a esquina, Dois de Ouro entre muitos outros regionais fizeram parte deste período. Importante também lembrarmos de duas personalidades importantes desta fase de militância do choro e que até hoje estão em atividade: Zé da Velha e Silvério Pontes.

Hoje o choro vive um período de modernização sonora, estética e comportamental. Será que estamos vivendo a sexta geração do choro?

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Author: imprensabr