Leonor Bianchi
Na famosa Era do Rádio, aqui no Brasil, anos de 1930, 40 e 50, figuraram em destaque dois grandes flautistas de choro: Dante Santoro (18 de julho de 1904 – Porto Alegre, RS, 12 de agosto de 1969, Rio de Janeiro, RJ), e Benedicto Lacerda (Macaé, 14 de março de 1903 — Rio de Janeiro, 16 de fevereiro de 1958).
Quando comecei a trabalhar com choro, escutei alguns pesquisadores comentarem sobre disputas e competições entre estes gênios da nossa música, e, a fim de entender o que de fato aconteceu e qual era a relação entre eles, conversei com o biógrafo de Benedicto Lacerda, Sidney Castelo Branco, casado com a neta de Benedicto, que nos elucida os fatos e nos traz à tona a verdadeira história entre ambos. Não consegui encontrar ninguém da família de Dante Santoro, ou historiador que pudesse confrontar tais informações ou confirmá-las. Assim, vejamos o que nos conta Castelo Branco sobre as fofocas a respeito das indiferenças entre Dante e Benedicto.
Segundo Sidney:
“Nunca houve qualquer tipo ou espécie de rixa entre os Regionais de Benedicto e Dante Santoro, este, inclusive, era muito amigo de Benedicto, e procurava improvisar tal como Benedicto.
Se vc pesquisar os Regionais da época, irá verificar que o de Benedicto era, disparado, o mais requisitado, mais admirado pelo público, vide os resultados dos concursos promovidos pelas rádios nos quais o Regional de Benedicto sempre ganhava o primeiro lugar, portanto essa fonte de informação sobre rixa é sem fundamento”.
E segue, o biógrafo de Lacerda:
“Hoje, vivemos na era do Fake News eletrônico, mas Fake News sempre existiu, e antes era fabricado por aqueles que eram formadores de opinião e tinham suas colunas nos jornais, como também escreveram diversos livros com muitas mentiras, sempre objetivando algum resultado. Na época era difícil verificar as informações, porém, hoje, com a Internet, podemos comprovar a quantidade enorme de construções falsas e desconstruções também falsas a respeito de diversas personalidades brasileiras em todos campos de atividade.
Dante Santoro era funcionário contratado da Rádio Nacional desde a sua inauguração, devendo registrar que o Regional de Dante Santoro fazia parte da Rádio Nacional, vide que a Direção do Regional lhe foi entregue pela direção da Rádio sem nada lhe pagar pela tarefa, ou seja, ele tocava na Sinfônica da Nacional e também no Regional. Tocou em diversas rádios antes de entrar na Nacional, tais como Rádio Sociedade Gaúcha, Rádio Cajuti, Rádio Educadora, Rádio Cruzeiro e Radio Club.
Benedicto tocou e inaugurou diversas Rádios, tais como Guanabara, Cruzeiro do Sul, Tupy, dentre outras, sempre com contratos de curto prazo, sabendo administrar as melhores oportunidades de trabalho e oferta financeira, diferentemente de muitos outros artistas que eram contratados da Rádio Nacional, que lhes garantia um valor fixo por mês”, finaliza Castelo Branco.
Para comprovar a relação amistosa entre os músicos, o biógrafo enviou uma fotografia de Dante Santoro visitando a viúva de Benedicto Lacerda logo após o seu falecimento. Foto esta publicada na extinta Revista do Rádio.
Ele também ilustrou nossa entrevista com outra foto publicada no jornal Correio da Manhã, que deixa clara a amizade e o respeito de Dante a Benedicto, quando este prestou uma homenagem a Lacerda após seu falecimento.