Por ALCINEIDE AGUIAR PIMENTA[1] KEILA COSTA DE SOUZA[2]
INTRODUÇÃO
Os estudos sobre Economia Criativa, tanto nas universidades como em entidades governamentais e privadas tomaram proporções mundiais há cerca de duas décadas, dentro desse contexto também se insere a abordagem das Cidades Criativas (REIS, 2011). A discussão se concentra na concepção de que uma cidade criativa é palco do desenvolvimento da economia de um local, região ou mesmo de um país. Entendendo cidade criativa como um potencial para atrair classes criativas capazes de desenvolver a economia local, através da cultura, dos costumes e valores locais e ampliar a visibilidade da cidade a nível nacional e internacional.
PROPÓSITO CENTRAL DO TRABALHO
Busca-se nesse estudo analisar como um festival pode impulsionar a internacionalização de uma cidade e de produtos locais. O cenário para essa investigação foi a cidade de Viçosa do Ceará, com cerca de 54 mil habitantes, situada a 348,8 km de Fortaleza. Declarada Patrimônio Histórico Nacional pelo IPHAN, o município se destaca pelo seu clima agradável, em média 20°, sua paisagem natural de serra e plantas nativas e seus eventos culturais e artísticos. Dentre eles, o Festival de Mel, Chorinho e Cachaça, criado em 2007 numa parceria do SEBRAE com a Prefeitura. Pretende-se com esse estudo, contribuir com o debate contemporâneo acerca da internacionalização de cidades criativas e os benefícios gerados para as empresas locais por meio dos eventos.
MARCO TEÓRICO
O entendimento do conceito de indústrias criativas provocou uma interpretação de cidades criativas como um local que concentra e apoia a indústria criativa (COMUNIAN, 2011). Teorias mais recentes sobre o tema tais como o de Florida (2003), destacam o papel da criatividade na geração de inovação e crescimento regional. As cidades criativas sob essa concepção, podem ser entendidas como cidades com elevada presença ou capacidade de atrair classe criativa. Dados do SEBRAE (2012), afirmam que o mercado de bens e serviços criativos tem se mostrados promissor, com um crescimento de 9% ao redor do planeta. Nesse sentido, percebe-se que cidades criativas vêm sendo consideradas como um pilar estratégico de impulso internacional para diversos países, daí a importância de compreender as teorias que embasam a internacionalização. Em se tratando de internacionalização as teorias são diversas e de diferentes perspectivas. Assim, dividem-se basicamente em abordagem econômica Dunning (1988), ao qual a internacionalização é baseada em critérios de escolhas racionais estruturadas buscando a maximização dos retornos econômicos e a comportamental é influenciada pelas percepções dos gestores empreendedores os quais tomariam decisões em um contexto de racionalidade limitada e de busca de minimização de risco (FLORIANI, 2010). Por se mostrar mais adequado ao estudo proposto que envolve cidades criativas na perspectiva da internacionalização, será adotado a abordagem comportamental. A abordagem comportamental tenta explicar a internacionalização como um processo gradual, onde o grau de envolvimento dos mercado internacionais aumenta a partir da aquisição do conhecimento experencial (JOHANSON; WIEDERSHEIM-PAUL, 1975; JOHANSON; VAHLNE, 1977; CAVUSGIL, 1984).
Focaremos na abordagem comportamental duas teorias que mais se adéquam ao estudo pretendido a Teoria de Network onde as redes de relacionamento impulsionam o acesso ao mercado externo por existir uma maior interação entre os atores e que o aumento de conhecimento e dos recursos ocorre a partir da troca de experiências (JOHANSON; VAHLNE, 1977), e a Teoria do Empreendedor Internacional (EI), onde o empreendedor é a peça-chave, nesse contexto os processos de estratégia ou o de internacionalização teriam início sem que houvesse o papel do empreendedor (HEMAIS; HILAL, 2002). Assim, a inovação e a diferenciação são decisivas para promover a competitividade e ela depende da combinação entre a mobilização do conhecimento da cultura e o fomento da criatividade.
Nesse sentido Canclini (2005) afirma que a internacionalização foi uma abertura das fronteiras geográficas de cada sociedade para incorporar bens materiais e simbólicos das outras e supõe uma interação funcional de atividades econômicas e culturais.
MÉTODO DE INVESTIGAÇÃO
O estudo adotará o método do estudo de caso, Yin (2005). A escolha desse método se deu pela possibilidade de compreender melhor os fenômenos individuais, grupais e organizacionais do caso a ser investigado. Quanto à natureza da pesquisa será qualitativa, o que se justifica por ser adequada para entender a natureza de um fenômeno social (RICHARDSON, 2011), e se enquadra na categoria descritiva. A pesquisa foi dividida em duas etapas, sendo a primeira de caráter bibliográfico e a segunda etapa uma pesquisa de campo. Os setores a serem entrevistados serão o SEBRAE, Secretaria de Turismo, Cultura e Meio Ambiente, Associação dos Produtores de Cachaça e Mel e dos Artesãos. Para análise dos resultados coletados será adotado o método de análise de conteúdo, que, segundo Bardin (2006) é constituída por várias técnicas nas quais se busca descrever todo o processo de comunicação no ato da investigação, sejam esses conteúdos escritos ou falados.
O CASO
Festival: Mel, Chorinho e Cachaça – Viçosa do Ceará, declarada Patrimônio Histórico Nacional pelo IPHAN desde 14 de agosto de 2003. Localizada a 348,8 km da capital Fortaleza, situada na microrregião da Ibiapaba. Segundo o censo de 2010, realizado pelo IBGE, o município tem 54.961 habitantes (IBGE, 2010). Cidade de clima agradável com temperatura média de 20º e a uma altitude de 740 metros acima do nível do mar. Conhecida também, como um importante destino turístico sendo reconhecida por seus eventos culturais e artísticos, entre eles podemos citar o Festival de Música da Ibiapaba e em especial o Festival de Mel Chorinho e Cachaça. Esse festival foi idealizado no ano de 2007 em parceria com o SEBRAE e a Prefeitura Municipal de Viçosa do Ceará com o objetivo de realizar um evento voltado principalmente ao fortalecimento e a consolidação das manifestações culturais, lazer e entretenimento. Dentre os objetivos do Festival estão o intercâmbio cultural e formação artística; fortalecimento do turismo rural e cultural da Ibiapaba; capacitação técnica dos produtores; incentivo as cadeias produtivas do pequeno produtor em especial a produção familiar e artesanal de cachaça e mel e consolidar o município como importante roteiro turístico cultural não só no estado do Ceará mais também a nível Nacional e Internacional. Considerado um festival para todos os sentidos, pois, envolve turismo com roteiros para visitas aos engenhos, alambiques, fazendas produtoras de mel e citytur histórico e ecoturismo, gastronomia com oficinas gastronômica utilizando receitas à base de produtos da região, em especial o mel e a cachaça e os shows musicais com “o chorinho” ,uma das mais autênticas manifestações da música brasileira, além de grupos de teatro mambembe e grupos artísticos locais. Com um público seleto em suas edições, contando com um número aproximado de 42.000 participantes (dados da Secretaria de Cultura do Município). O Festival Mel, Chorinho e Cachaça vem contribuindo com a integração da microrregião da Ibiapaba, através de um projeto comum que vem impulsionando o desenvolvimento da cadeia produtiva do agronegócio, agregando valores culturais e potencial turístico.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após o levantamento e análise dos dados, espera-se contribuir, com a comunidade acadêmica e interessados no tema, na identificação dos fatores que viabilizam a internacionalização, de uma cidade criativa e os produtos de uma região, através de um evento cultural organizado a partir da valorização das riquezas locais, sejam elas patrimonial, cultural ou produtos regionais.
REFERÊNCIAS
ANDRADE, Maria Margarida de. Introdução à Metodologia do Trabalho Científico. 8ª ed. São Paulo: Atlas, 2007, p.160.
Bardin, L. (2006). Análise de conteúdo (L. de A. Rego & A. Pinheiro, Trads.). Lisboa: Edições 70. (Obra original publicada em 1977)
CANCLINI, Néstor García. Consumidores e cidadãos: conflitos multiculturais da globalização. 5. ed. Rio de Janeiro: UFRJ, 2005.
CAVUSGIL, S.T. Organizational characteristics associated with export activity. Journal of Management Studies. V. 21, N. 1. p. 3-22. 1984.
COMUNIAN, R. Rethinking the Creative City: The Role of Complexity, Networks and Interactions in the Urban Creative Economy. Urban Studies, v. 48, n. 6, p. 1157-1179, 2011.
DUNNING, J. The eclectic paradigm of international productions: a restatement and some possible extensions. Journal of International Business Studies, v. 19, n. 1, p. 1-31, 1988.
FLORIANI, D. E. O Grau de Internacionalização, as Competências e o Desempenho das PME Brasileira. Tese (Doutorado em Administração) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010.
FLORIDA, R. The economic geography of talent. Annals of the Association of American Geographers, 92, 4, p. 743-755, 2002.
GARCIA CANCLINI, N. Consumidores e Cidadãos. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 6 Ed. , 2006, 227p. HEMAIS, C; HILAL, A. O Processo de Internacionalização da Firma Segundo a Escola Nórdica de Negócios Internacionais. In: ROCHA, A. (Ed) A Internacionalização das Empresas Brasileiras: estudos de gestão internacional, Rio de Janeiro: Mauad, 2002.
JOHANSON, J.; WIEDERSHEIM-PAUL, F. The internationalization of the firm: Four Swedish cases. Journal of Management Studies, 12(3): 305–322, 1975.
JOHANSON, J.; VAHLNE J. E. The internationalization process of the firm: a model of knowledge development and increasing foreign commitments. Journal International Business Studias 8:23–32, 1977.
MOZZATO, A. R.; GRZYBOVSKI, D. Análise de conteúdo como técnica de análise de dados qualitativos no campo da administração: potencial e desafios. Revista de Administração Contemporânea, v. 15, n. 4, p. 731-747, 2011.
Projeto Festival Mel, Chorinho e Cachaça. Prefeitura Municipal de Viçosa do Ceará.
REIS, A. C. F. Tese de Doutorado. CIDADES CRIATIVAS: Análise de um conceito em formação e da pertinência de sua aplicação a cidade de São Paulo. Universidade de São Paulo Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. São Paulo, 2011.
RICHARDSON, R.J. Pesquisa Social: Métodos e Técnicas. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2011.
VERGARAS, S.C. Projetos e Relatórios de Pesquisa em Administração. 5 ed. São Paulo: Atlas 2004. YIN. R. R. Estudo de Caso: Planejamento e Métodos. 3 ed. Porto Alegre: Bookmam, 2005.
[1] Doutoranda em Ambiente e Desenvolvimento pela UNIVATES; Mestre em Administração pela UNIVALI; Professora da Faculdade Luciano Feijão. pimentaalcineide@gmail.com
[2] Mestre em Administração pela UNIVALI; Coordenadora dos Curso de Administração e Contábeis da Faculdade ViaSapiens. keyla_costa27@hotmail.com