O violão de sete cordas no choro – com Edmilson Capelupi


Por Leonor Bianchi

Arranjador, compositor, instrumentista, produtor, músico autodidata, Edmilson Capelupi foi influenciado pelo pai, músico “chorão”, e pelas rodas de choro que frequentava desde pequeno. Aprendeu a tocar violão de seis cordas, viola e cavaquinho, especializando-se no violão de sete cordas.

A partir de 2006 atuou como professor do Curso de Violão de Sete Cordas e Prática de Conjunto de Choro, da Escola de Música do Estado de São Paulo (EMESP).

Participou, como professor, de oficinas de choro e workshops, realizados na Universidade de São Paulo e no SESC Pompéia.

Como instrumentista, participou da gravação dos discos de vários artistas, dentre os quais “Sonora garoa” (1984), “Inéditas de Adoniran” (2000), “Passoca canta João Pacífico” (2003), e “Suite paulistana” (2011), de Passoca; “Meu cantar é tempestade de saudade” (1987), de Nora Ney; “Minas da lua” (1995), de Saulo Laranjeira; “Edson Cordeiro” (1992), de Edson Cordeiro; “Canção brasileira, a nossa bela alma” (1992), de Eliete Negreiros; “Demônios da Garoa, 50 Anos” (1994) e “Mais Demônios do que Nunca” (2000), dos Demônios da Garoa; “Tão Simples” (1995), Ana de Hollanda;  “Chave dos segredos” (1995), de Zezé Motta; “Anjo de mim” (1995), de Ivan Lins; “Na pancada do ganzá” (1996), “Madeira que cupim não rói” (1997), “Pernambuco falando para o mundo” (1999), “Marco do meio-dia” (2001), “Lunário perpétuo” (2002), “Nove de frevereiro I e II” (2006), de Antônio Nóbrega; “From Brazil to Japan” (1996), de Jane Duboc; “Dominguinhos e convidados cantam Luiz Gonzaga Vol. I e II” (1997), de Dominguinhos; “Ary mineiro” (1998), de Célia e Celma; “500 anos de Folia Vol. I e II” (1999/ 2000), de Jair Rodrigues; “A música brasileira deste século por seus autores e intérpretes” (2000), de Ademilde Fonseca; “Leite preto” (2000), “Do meu jeito” (2004) e “Enquanto eu fizer canção” (2011), de Carmen Queiroz; “Bossa” (2001), de Zizi Possi; “Hoje Lembrando” (2003), de Inezita Barroso; “Simplesmente Maria Martha” (2003), de Maria Martha; “Trégua” (2003), de Chico Saraiva; “Pétalas” (2003) e “Dois maior de grande” (2006), de Clara Becker; “Dança das rosas” (2004), de Consuelo de Paula; “Verde” (2004), de Badi Assad; “Berimbaum” (2004), de Paula Morelenbaum; “Preto no branco” (2005), de Osvaldinho da Cuíca; “Pra tirar o chapéu” (2005), de Eduardo Gudin; “Avarandado” (2005) e “Alma cabocla” (2009), de Ana Salvagni; “Estudando o Pagode” (2005), de Tom Zé; “Céu” (2005), de Céu; “Simples” (2006), de Jair Oliveira; “Pierrot & Colombina” (2006), de Vânia Abreu e Marcelo Quintanilha; “Direito de Sambar” (2006), de Adriana Moreira; “Beth Carvalho canta o samba da Bahia” (2007), de Beth Carvalho; “Lado Z” (2007), de Zeca Baleiro; “Tocando para o interior” (2007), de Nailor Proveta; “Comunhão” (2008), de Mário Gil; “Dois de fevereiro” (2008), de Mateus Sartori; “O samba me cantou” (2009), de Jair Oliveira e Luciana Mello; “São Mateus não é um lugar tão longe assim” (2009), de Rodrigo Campos; “Sambajazz” (2010), de Jair Oliveira; “Quem viver verá” (2011), de Toquinho; entre outros.

Foi responsável pela produção e pelos arranjos os CDs “Carlinhos do cavaco” (1997) e “Mensagem de bamba” (2003), de Carlinhos do Cavaco; “Leite preto” (2000), “Do meu jeito” (2004) e “Enquanto eu fizer canção” (2011), de Carmen Queiroz; “Abra a roda tindolelê (2002), de Lydia Hortélio; “Papo de Anjo – Choro” (2003), do grupo Papo de Anjo; “Nove de fevereiro II” (2006), de Antônio Nóbrega; “Direito de Sambar” (2006), de Adriana Moreira; “Perímetro Urbano” (2009), do grupo Perímetro Urbano.
Como arranjador, participou dos CDs “Toninho Carrasqueira toca Pixinguinha e Patápio da Silva” (1996); “História do Samba Paulista I”, de Osvaldinho da Cuiça; “Anjo torto” (2000), de Carlos Henry; “Marco do meio-dia” (2001) e “Lunário perpétuo” (2002), de Antônio Nóbrega; “Primeira classe” (2002), do grupo Nosso Choro; “Entre amigos – Chorinhos” (2002); “Canto pra viver” (2005), da Velha Guarda Musical Camisa Verde e Branco; “Avarandado” (2005) e “Alma cabocla” (2009), de Ana Salvagni; “180 anos de samba – Cantando Adoniran e Noel” (2009).

Foi o responsável pela revisão harmônica da publicação “O Melhor de Pixinguinha” (1997), da Editora Vitale.

Atuou como produtor musical dos DVDs “Lunário perpétuo” (2002), “Nove de frevereiro” (2008) e “Naturalmente” (2011), de Antônio Nóbrega; “Demônios da Garoa – Ao vivo”, dos Demônios da Garoa; “O samba me cantou” (2009), de Jair Oliveira e Luciana Mello; “50 Anos Depois” (2009), de Agnaldo Rayol.

Participou, como instrumentista, do show de artistas como Beth Carvalho, Jane Duboc, Hermínio Bello de Carvalho, Paulinho da Viola, Zezé Gonzaga, Roberto Silva, entre outros.

Foi responsável pela direção musical e os arranjos do “Show dos Direitos Humanos” apresentado em Brasília (2008), Recife (2009) e Belo Horizonte (2010), do qual participaram vários artistas, como Sérgio Ricardo, Hamilton de Holanda, Moraes Moreira, Beth Carvalho, Elba Ramalho Emílio Santiago, Luiz Melodia, Chico César, Elza Soares, Arnaldo Antunes, Fernanda Takai,  Lenine, Lô Borges, Margareth Menezes, Pablo Milanés, Milton Nascimento, Antônio Nóbrega, MPB 4, Zé Renato, Jair Oliveira, Luciana Mello, Dominguinhos, Paulo Moura, Isaias e seus chorões, Fabiana Cozza, Elton Medeiros, Cristina Buarque, Ataulfo Alves Jr.,  Orquestra Jazz Sinfônica, Gal Costa, Mestre Marçal, Dona Ivone Lara, Eliete Negreiros, Raul de Barros, Ademilde Fonseca, Carmen Queiroz, Zé Luis Mazzioti, Carlinhos Vergueiro, Silvio Caldas,  Zé Ketti, Altamiro Carrilho, Joel Nascimento, Déo Ryan, Toninho Carrasqueira, Toninho Ferragutti, Proveta,  entre outros.

Integrou os grupos instrumentais Papo de Anjo e Isaías e seus Chorões.

Foi  diretor musical do artistas Antônio Nóbrega.

Participou das trilhas sonoras dos filmes “Dois Córregos” (1999), de Carlos Reichenbach; “Cidade de Deus” (2002); “Não por acaso” (2007), de Philippe Barcinski; “Cidade dos Homens”, de Elena Soárez e Paulo Morelli; “Todo Poderoso: O Filme – 100 Anos do Timão (2010); e da minissérie “Filhos do carnaval”, exibida pelo canal HBO.*

Este mês, Edmilson Capelupi é o nosso entrevistado para a série ‘O violão de sete cordas no choro’. Mês que vem tem Luizinho Sete Cordas e ainda Rogério Caetano. Acompanhe! Leia também as entrevistas da série com Lia Meyer, do grupo Choro das Três, e com o violonista Ricardo Vieira.

Edmilson Capelupi

Edmilson Capelupi

Revista do Choro: No choro quais violonistas de 7 cordas o influenciaram / influenciam ?

Edmilson Capelupi: Certa vez meu pai Haroldo Capelupi me mostrou a gravação de “Ainda me recordo” de Pixinguinha, com o Regional do Canhoto (Noites brasileiras 1959), onde o violão de 7 cordas assume a função de solista na introdução e fiquei fascinado pela sonoridade e perguntei ao meu pai que instrumento era aquele, ele respondeu: “esse é o Dino”.

A partir daquele momento tudo girava em torno daquele homem que criou a escola de acompanhamento no violão de 7 cordas, depois surgiu outro fenômeno com a minha idade (nascido em 1962 como eu), “Raphael Rabello”, que também comecei a copiar seu jeito de tocar, que era muito parecido com o jeito do Dino.

Outro violonista que me influenciou foi o Waldir Silva, com estilo diferente, muito criativo, deixou gravações antológicas com Roberto Ribeiro, Carlos Cachaça, Grupo Chapéu de palha, Cartola.

Em São Paulo o violonista que muito me influenciou presencialmente foi Israel Bueno de Almeida, de estilo elegante, muito criativo, sem excessos oferece ao solista toda segurança para interpretar e improvisar.

Mas ao longo da carreira fui ouvindo outros músicos que me influenciam: Helio Delmiro, Claudio Jorge, Luis Claudio Ramos, Edson José Alves, apesar de violonistas de 6 cordas me inspiram com harmonias, levadas rítmicas, ideias melódicas, improvisos ou contracantos que misturo no meu estilo.

Revista do Choro: Se tivesse que citar três violonistas de 7 cordas

Edmilson Capelupi: Sem dúvida: Horondino José da Silva, Raphael Rabello,  Waldir Silva.

Revista do Choro: Como voce pensa as baixarias

Edmilson Capelupi: Quando se começa a tocar o violão de 7 cordas a minha sugestão é transcrever o maior número de baixarias, estudar em vários tons, criar duas ou três opções para vários encadeamentos harmônicos. Com o tempo e experiência dessas baixarias podem derivar outros fraseados mudando a ordem das notas, o valor e tessitura.

Penso na baixaria como contracanto, moldura para um quadro, se escolhe o fraseado adequado para a melodia e harmonia, considerando a instrumentação e o arranjo, sem descuidar da célula rítmico-harmônica (levada).

A escolha dos fraseados é muito particular, cada violonista usará seus clichês e seu estilo para embelezar a melodia, no entanto, muita atenção para a melodia, harmonia e o gênero executado (choro, valsa, maxixe, samba, baião), cada um tem a sua característica rítmica muito bem definida.

Revista do Choro: Troca das cordas

Edmilson Capelupi: Normalmente troco a sétima corda a cada dois encordoamentos trocados, mas ultimamente tenho optado por trocar todas as cordas para obter um som mais equilibrado.

Revista do Choro: O som da sétima corda melhora

Edmilson Capelupi: Eu não diria que o som melhora, ele suaviza com o tempo de uso, pois no caso de encordoamento de aço e também a dedeira de aço, esse contato logo após a troca fica muito sensível, exigindo do músico um cuidado maior para tocar.

Revista do Choro: Afinação da 7ª corda

Edmilson Capelupi: Tradicionalmente o violão de 7 cordas usa encordoamento de aço, mas a partir 1983 (mais ou menos), Raphael Rabello optou pela sonoridade do nylon após ver o violonista Luiz Otavio Braga atuando na Camerata carioca com essa novidade; por isso usamos afinações diferentes nas duas opções.

Além de criar a linguagem do violão de 7 cordas, Horondino José da Silva também deixou uma alquimia improvável no violão de aço; encordoamento de guitarra Pyramid (6ª, 5ª, 4ª e 3ª cordas) e a 4ª corda do violoncelo (Pyramid) na 7ª corda. Essa sonoridade é o sonho de consumo dos violonistas, meu também.

Sendo a 4ª corda do violoncelo afinada também em C, inclusive na mesma tessitura (C1), não recomendo usar outra afinação, nem subir, nem baixar, mesmo que seja meio tom, a tensão muda e a sonoridade é muito prejudicada.

No violão com encordoamento de nylon, a 7ª corda aparece com várias opções de corda e afinação. Algumas marcas como Hannabach e Savarez tem cordas para afinações diferentes: 7ª (D), 8ª (C), 9ª (B) e 10ª (A), na segunda marca temos até a 13ª corda (E).

Costumo usar a 7ª corda  em B acompanhando a afinação padrão do violão (em quartas), facilita a visualização e a montagem dos acordes, mas também uso em C e A, dependendo do arranjo e tonalidade. Para todas essas afinações uso a 9ª corda da Hannabach, ela tem uma resposta muito boa nessas três afinações.

Revista do Choro: Escolhendo o repertório (o que não se pode deixar de ouvir, estudar e tocar)

Edmilson Capelupi: O aprendizado do violão de 7 cordas assim como alguns outros instrumentos relacionados ao choro, primeiramente acontece por meio de transcrições, ou seja, tirar de ouvido a música (solo, harmonia e baixaria); frequentar rodas de choro como ouvinte é indispensável, depois dar uma canja “tocar junto”.

Muitas vezes essa primeira etapa é recheada de equívocos melódicos, harmônicos (montagem de acordes) de baixarias e principalmente da técnica violonística (postura corporal, postura mão esquerda/direita, articulação, digitação), mas não importa, é o talento despertando, só falta lapidar, por isso haverá necessidade de ampliar seus conhecimentos, através de worshops, festivais, oficinas, seminários, em alguns casos um professor especializado.

O que ouvir?

O legado deixado pelo Dino (que não é pouco) é indispensável, é a primeira escola do violão de 7 cordas, seguido por Raphael Rabello, que juntou genialmente acompanhamento e solo como nenhum outro violonista.  Esses dois violonistas tem todos os requisitos que você precisa. Mas há outros violonistas que ajudarão na escolha do estilo que você mais gostar e depois procurar desenvolver o seu próprio.

Destacaria alguns trabalhos importantes para serem transcritos e apreciados:

“Baiãomania” e Noites brasileiras” (Regional do Canhoto)

“Choros imortais” volume I e II

“Vibrações” (Jacob do Bandolim e Época de ouro)

“Época de ouro” (Época de ouro)

“Clube do choro” (´Epoca de ouro)

“Os carioquinhas no choro” (Os carioquinhas)

“Dino 50 anos” (Época de ouro)

Cartola (1974) (1976) Verde que te quero rosa e Cartola 70 anos

“Mistura e manda” (Paulo Moura)

“Arrasta povo”, “Poeira pura”, “Roberto Ribeiro”, “Coisas da vida”, “Fala meu povo”, “Massa, raça e emoção”, “Roberto Ribeiro”, “De Palmares ao tamborim” (Roberto Ribeiro)

“Espelho”, “Vida boemia”, “Clube do samba”, “Boca do povo”, “Wilson, Geraldo e Noel” (João Nogueira).

Todo sentimento (Elizeth Cardoso e Raphael Rabello)

*Dic. Cravo Albim

imprensabr
Author: imprensabr