Revista do Choro conversa com o Conjunto Água de Vintém sobre a produção do CD que o grupo está gravando com músicas inéditas de Sergio Belluco


Violonista piracicabano ganhará, ainda, um documentário sobre sua vida e obra

Conjunto Água de Vintém

Conjunto Água de Vintém

Criado em 2011, o Água de Vintém é hoje um dos principais destaques da nova geração do choro. Unindo o trabalho de pesquisa e interpretação de diversos compositores a uma sólida produção autoral, conta com um extenso currículo de shows e participações em eventos de grande relevância no gênero.

Nesses anos, o Conjunto apresentou-se ao lado de consagrados músicos como Toninho Carrasqueira, Pedro Amorim, Alessandro Penezzi, Nailor Proveta, Toninho Ferragutti, Antônio Rocha, Aquiles Moraes e Ronaldo do Bandolim e Maurício Carrilho, referências nacionais e internacionais do gênero instrumental brasileiro.

Além de circular em eventos do Sesc nos Estados de São Paulo, Paraná e Santa Catarina, o Água de Vintém também passou por diversos festivais e programas dedicados ao Choro, entre os destaques estão I e II Festival de Choro de Avaré (2011 e 2012), o Painel Instrumental de Tatuí (2012), I, II e III Semana Seu Geraldo de Música de Leme (2011, 2012 e 2013), 51º Festival Villa-Lobos (RJ) e ainda no renomado Programa “Época de Ouro” da Rádio Nacional do Rio de Janeiro – Sala Funarte (2013), na ocasião do lançamento do primeiro disco Café da Dona Chica. Recentemente, apresentou-se no auditório da ADUNICAMP no VII Encontro de Choro da Unicamp (2014) e gravou o Programa Talentos da TV Câmara lançado ao ar no segundo semestre de 2014.

O disco de estreia do conjunto, “Café da Dona Chica” (2013), traz 12 choros inéditos, sendo 11 de autoria do grupo e 1 assinado por Maurício Carrilho, produtor musical do disco, sob o selo da Acari Records (RJ), a principal gravadora de choro no Brasil.

Em 2014 o Água de Vintém ensaia o repertório do segundo disco, numa honrável homenagem ao destacado violonista piracicabano Sergio Napoleão Belluco, trazendo o ineditismo de sua rica obra musical dedicada ao choro. O projeto tem previsão de lançamento para 2015.

Homenagem a Sergio Belluco

Designa-se expor a obra deste ilustre compositor, grande difusor do violão piracicabano, interpretando 12 choros de sua genuína obra, praticamente inéditos no repertório dos chorões.

O Água de Vintém, enquanto conjunto de choro, labora no intento de alentar a música brasileira no seu feitio tradicional, abrasando os antigos e contemporâneos, enredando as gerações porvindouras.

Portanto, nosso intento é consolidar e perfilhar o honorável lavor musical de Sergio Belluco, entremeando a magnificência das artes piracicabanas por todo o território nacional, efervescente aos olhos do mundo.

Uma proposta do projeto é disponibilizar os playbacks do futuro disco e as respectivas partituras para estudos. Esta iniciativa possibilita, além da apreciação e divulgação, a assimilação e incorporação da obra do autor em rodas e repertórios de praticantes e conjuntos de choro.

Ouça a música e baixe a partitura

Você pode ouvir agora a gravação demonstrativa de uma faixa e baixar a partitura original.

Sergio Belluco dedilhou sua história na música piracicabana, tendo dedicando toda a vida ao violão e para a mais fina arte da educação. É obreiro da música brasileira por sua sagacidade e desvelo, construindo, desta forma, um verdadeiro legado para a história do violão piracicabano. Num tempo em que as partituras eram restritas, transcreveu inúmeros choros dos discos de sua coleção, acurado, montando primorosos cadernos de choros, dos mais diversos compositores brasileiros. E esses cadernos correram chão, andando nas mãos dos chorões pelos recantos brasileiros. Sua acuidade na escrita é invejável, senhor da serenidade, cuja tranquilidade notória é traduzida no olhar sereno e na cordialidade que lhe é característica. Sua obra é autêntica e fidedigna ao gênero de maior expressão nacional, o Choro.

Para os integrantes do Conjunto Água de Vintém, é uma singular e aprazível satisfação ter a oportunidade de homenagear este grande homem com a gravação de um disco de choros inéditos de sua portentosa obra.

O Água de Vintém é:

Saulo Ligo | CAVACO

Natural de Piracicaba – SP. Cantor e compositor desde 2003, começou a tocar cavaquinho aos 12 anos e violão aos 15. Em 2010 foi finalista do 6º Festival de Rio Claro e semifinalista do 18º Festival de MPB de Tatuí. Em 2012 participou do Exposamba e do Festival Viola de todos os Cantos. No mesmo ano, lançou seu primeiro disco, intitulado “Meu Tempo é o Samba”. Já acompanhou Toniquinho Batuqueiro, Germano Mathias, Monarco, Wanderley Monteiro e Nelson Rufino. Participou em 2011, 2012 e 2013 da oficina de cavaco com Luciana Rabello na “Semana Seu Geraldo de Música” (Leme-SP).

Xeina Barros | PANDEIRO

Natural de Piracicaba – SP. Teve seu primeiro contato com a música aos 8 anos de idade, nas rodas de samba realizadas na casa de sua avó, e desse convívio nasceu a afinidade com os instrumentos de percussão. Aos 16 anos já atuava profissionalmente ao lado de músicos expressivos de Piracicaba. Tocou com Monarco, Núcleo de Samba Cupinzeiro, Quarteto de Cordas Vocais, Agnaldo Luz, grupo Chorando na Sombra e outros conjuntos e músicos. Já apresentou-se em locais como Galeria Olido, SESCs, Bar Brahma e Teatro do Sesi. Estudou percussão popular no Conservatório de Tatuí e participou da oficina de pandeiro com Marcus Thadeu na “Semana Seu Geraldo de Música” (Leme-SP) de 2012.

Vitor Casagrande | BANDOLIM & VIOLINHA TENOR

Natural de Piracicaba – SP. É formado em cavaquinho pela Escola de Música de Piracicaba “Professor Ernst Mahle” e em bandolim com o professor Altino Toledo no Conservatório “Dr. Carlos de Campos” de Tatuí, cursa atualmente a faculdade de Educação Musical da UFSCAR. Vitor já se apresentou em locais de referência, como a Sala São Paulo (com o Grupo de Choro do Conservatório de Tatuí) e Galeria Olido, além de SESCs e casas noturnas no Rio de Janeiro e por todo o estado de SP.

Paula Borghi | VIOLÃO

Natural de Santo André – SP. Iniciou seus estudos musicais no Conservatório de Tatuí aos 9 anos de idade. Na instituição, formou-se em “Aperfeiçoamento no Violão Erudito” (2006) e “Violão MPB / Choro” (2011). Ainda em 2011, graduou-se pela UNIMEP no curso de “Licenciatura em Música”. Conquistou o 1º lugar em diversos concursos importantes de violão, entre eles o “Concurso de Violão Solo do Conservatório de Tatuí” (2002 e 2003) e “Concurso de Violão Souza Lima SP” (1999 e 2005). Já atuou profissionalmente como solista e acompanhadora em diversas formações instrumentais, orquestras e grupos de câmara por todo o estado de SP.

Marcus Godoy | VIOLÃO 7

Natural de Piracicaba – SP. Aos 11 anos, aprendeu cavaquinho, violão e bandolim com seu pai, Donizette Godoy. A partir dos 13 anos, estudou Rítmica e Percussão com o Prof. Wagner Silva e Harmonia, Teoria e Improvisação com Samuel Gustinelli. Fez o Curso Popular de Guitarra e Bandolim no Conservatório Musical Dr. Carlos Campos, em Tatuí-SP, por 4 anos com os Professores, Fabio Leal, Alexandre Bauab e Altino Toledo. Em 2013, participou do 12° Prêmio Nabor Pires de Camargo acompanhando o Flautista Leandro Candido de Oliveira, onde conquistou a Primeira Colocação.

Conversa com o Água de Vintém

A Revista do Choro conversou Conjunto Água de Vintém sobre como está sendo a produção do CD em homenagem a Sergio Belluco e todo trabalho de pesquisa que o projeto exigiu. Leia mais.

Sergio Belluco: O grande mestre piracicabano do violão brasileiro.

Sergio Belluco: O grande mestre piracicabano do violão brasileiro.

Revista do Choro: Como pintou essa oportunidade, quem do grupo conhecia o Sergio Belluco?

Conjunto Água de Vintém: Desde o surgimento do Conjunto, em 2011, sempre tivemos muita vontade de tocar músicas do Belluco. Todos de alguma forma conheciam o Sergio, mas sem um contato pessoal. Ele sempre foi uma grande personalidade de Piracicaba, um grande músico, que sempre se apresentou com conjuntos regionais tocando choros e acompanhando seresteiros, sendo o Conjunto Som Brasileiro, criado por ele a grande referência. Antes tinha o Conjunto Serenata, também formado por ele, que também fez história aqui na cidade. Ele foi desses seresteiros de tocar debaixo de janela, naquele tempo de cidade pacata. Piracicaba sempre teve muitos cantores e tocadores… 

Do Conjunto, o Vitor que é o solista é quem teve o primeiro contato direto com o Sergio, na ocasião de uma visita à casa do Belluco, que sempre foi e ainda é um reduto musical de encontros, ensaios. Neste dia o Vitor saiu de lá com as partituras de todos os choros dele. Assim, fomos incorporando, devagar, a obra dele ao repertório do Água de Vintém, tocando em bares, na abertura de shows. Conforme o grupo foi aperfeiçoando a relação com o choro, que implica numa dedicação à pesquisa de repertórios de chorões antigos, linguagem musical do choro, que é complexa pela diversidade rítmica que compõe o gênero, foi aumentando a perspectiva de poder interpretar com grandeza a obra do Belluco, que tem muita sonoridade, muita variação, com polcas, choros, maxixes, valsas, schottistch, mazurcas, peças de violão solo, etc… e dessa forma foi crescendo a pretensão de gravar um álbum de homenagem. 

Revista do Choro: Como está sendo este momento de gravar o CD?

Conjunto Água de Vintém: O momento é muito bom para o grupo, que vem de uma renovação e também, já tendo o primeiro álbum lançado que traduz bem a cara do grupo, com choros inéditos e autorais, que foi a grande prova de amadurecimento musical de todos os integrantes por ter que dar roupagem e linguagem a um repertório próprio, onde a gente usava os grandes discos tradicionais, como os do Jacob, para trabalhar a percepção e tentar fazer igual nas nossas músicas. Depois desse período veio a vontade e a necessidade de fazer um segundo disco que mostrasse outra face do Conjunto que era a da pesquisa e memória. Aí veio a calhar a obra de Belluco, um conterrâneo, um mestre, um grande compositor, fora a figura humana, um ser íntegro e muito generoso.  

Revista do Choro: Vocês estão documentando esses encontros com ele em vídeo e pensam em mais para frente editar um filme? 

Conjunto Água de Vintém: Para complementar a pesquisa e até pedir licença de vasculhar a obra dele, fizemos algumas visitas para prosear e tocar também. O Belluco é fascinado por música, respira música. Num desses encontros gravamos uma entrevista e mostramos cinco choros e uma valsa que estavam preparados para o CD demonstrativo do Projeto para gravação. Estamos na expectativa de um prêmio do Proac, para patrocinar a gravação do disco e fazermos uma circulação mínima em cinco cidades. Mas, independentemente disso, é um projeto consolidado dentro das pretensões do grupo, uma questão de tempo para lançarmos. De 2015 não passa e um dos desdobramentos desse projeto é a produção de um documentário sobre a vida e obra dele, que será dirigido por Kael Gonçalo, com produção da Pyx Filmes. O Belluco é completo, um grande educador, grande compositor, grande em tudo que faz, tem a sensibilidade e destreza dos mestres e o faz sem supor rótulos, faz por amor à música. Isso tem que ser mostrado. 

Revista do Choro: Onde, estúdio, o CD está sendo gravado? 

Conjunto Água de Vintém: A gravação da Demo foi feita no Síncopa, um estúdio de Campinas, pelas mãos de José Bichoff, excelente por sinal. Assim que tivermos uma posição do edital retomamos a gravação neste mesmo local, que tem feito um trabalho bonito com o choro. Recentemente, foi gravado lá o disco do Regional Paulista, dos nossos amigos João Camarero, Junior Pita, Beto Amaral, Lucas Arantes e André Ribeiro, um disco fabuloso!

Revista do Choro: Vocês estão convidando mais gente para fazer parte do CD que estão fazendo com o trabalho do Belluco?

Conjunto Água de Vintém: Convidamos alguns músicos que tem uma relação com o grupo, como é o caso de Rafael Toledo, um grande percussionista que vai adornar o disco, mais alguns músicos que fizeram parte de grupos do Belluco, neste caso o flautista, também piracicabano, Leandro Oliveira, que integrou o Conjunto Som Brasileiro e hoje é flauta na Orquestra Heliópolis do instituto Bacarelli de São Paulo. Outro nome provável é o Alessandro Penezzi, que foi aluno do Belluco. Vamos negociar a participação dele com o produtor (risos). O Sergio dedicou muitos choros aos companheiros de música, se fossemos convidar todos daria para lançar um duplo! Ele compôs praticamente uma série de músicas que acabam sendo um método didático de aprendizagem do violão, feita aos alunos dele em forma de homenagem, mas que realçam a profundeza da relação do Sergio com a educação, a composição e o legado musical. É fantástico… 

Revista do Choro: Onde podemos saber mais sobre a vida e obra do Belluco? 

Conjunto Água de Vintém: Juntamente ao projeto, fizemos um pequeno levantamento biográfico dele e descobrimos que, além do músico extraordinário, é um exímio artista plástico, faltam paredes em sua casa para pendurar quadros… E paralelamente ao choro, Sergio tem uma relação profunda com a música erudita. Tem uma obra excelente de peças de violão solo para música de câmara, quartetos e quintetos de violão. Tem muitos vídeos na internet dele tocando e pessoas de várias partes do mundo tocando a obra dele. Aqui tem a Raíssa Amaral, também sua aluna, grande musicista e cantora, que muito divulga a obra do Belluco. Muito talentosa! 

Revista do Choro: Fizeram um site para o projeto, fan page? 

Conjunto Água de Vintém: Dedicamos um espaço no site do conjunto para falarmos do projeto e uma das propostas é depois disponibilizar os áudios como playback junto das partituras, assim como aquele do Jacob e como o Maurício Carrilho tem feito na série 8com que tem lançado, com o intuito educativo. É uma forma de incorporar a obra dele no repertório tradicional, que é assim que o choro se tornou imortal, os chorões vem de geração em geração fazendo isso e é o que tem de ser feito. É o gênero de maior importância do Brasil na perspectiva do conjunto e acreditamos inclusive que a musicalização através do choro é o canal fundamental para se restabelecer um vaco que ficou na nossa cultura. Através do choro compreendemos a história da Música, do Brasil e seu papel no mundo.  

Revista do Choro: Temos um álbum da obra de Jacob que ele transcreveu. Ele foi professor de muitos grandes violonistas brasileiros. Ele nunca tinha tido um disco gravado com suas canções?

Conjunto Água de Vintém: Pois é, tem isso ainda. Ele transcreveu centenas de choros. Muito cuidadoso, apurado, e escrevia também as passagens e contrapontos dos violões, tudo registrado em livros que acabaram circulando por muitas mãos de instrumentistas. Sabemos de músicos do Rio de Janeiro que aprenderam choros pelas transcrições dele, gente tocando pela partitura dele em roda de choro na Holanda, veja só… Acho que o grande aluno foi o Penezzi, que teve sua carreira realçada pelo Sergio, tanto que sabemos da grande estima que um tem pelo outro. Quando o Alessandro começa a fazer as aulas de violão com ele, ainda menino, logo aparece no Som Brasileiro solando bandolim, flauta, cavaquinho, tenor. Tem vídeos na internet dele com 14, 16 anos tocando. O Alessandro é muito astuto e um tremendo músico, versátil. Outra aluna já citada é a Raíssa, mais ligada ao violão erudito, mas também talentosíssima e que é uma das grandes intérpretes do Belluco. O Sergio sempre foi muito dedicado e zeloso, tanto que o Som Brasileiro tinha um repertório vastíssimo de choros, só o Alessandro sabia uns 300 ou mais, sem falar no Seu Gérson do Bandolim de Americana que tocou por muito tempo no Conjunto do Sergio e ainda se encontram pra tocar. Chegaram a registrar alguma coisa, mas com gravador caseiro, somente como registro. O Penezzi gravou a Valsa Seresta nº1, num disco, mas uma leitura de sua obra como pretendemos acho que ainda não foi feita, inteiramente dedicada as suas composições.

Revista do Choro: Comentem esse ineditismo das músicas dele que estão gravando no CD. 

Conjunto Água de Vintém: É uma obra que ficou bem guardada. Alguns choros dele escaparam, entre eles, o Buliçoso, que soa como um choro imemorial, que parece já consagrado, assim como o Kaique, um varandão daqueles de fazer chorar, as valsas. O Conjunto Som Brasileiro teve um período de pelo menos 30 anos bem ativo, desde os anos 70. É nesse período que surge esse repertório de choros dele, todos muito bem estruturados, expressivos, com harmonias bem coerentes ao que pede um choro bom. E tem a variedade de estilo. A polca Sabrina, é bem dançante, polca circense. O choro Dialogando tem uma conversa de bandolim, no nosso caso, e violão de 7 cordas, como sugere o nome. Tem a valsa Inocência que ele dedicou pro Penezzi, rápida e bem virtuosa. Tem um choro de flauta dedicado ao Leandro Oliveira, Um toque Sutil, cheio de volteios. O choro Sem mais nem menos, também parece aqueles que já nascem clássicos, bem feito. Enfim, uma obra bem interessante pela sonoridade e que tivemos um certo cuidado para escolher. O Vitor que fez essa triagem, por ser o solista e a Paulinha, que é grande solista de violão, investigou a obra de violão solo. Uma sorteada foi a Valsa Seresta nº3, muita delicada, singela. Passamos esses últimos três anos nos dedicando a conseguir tocar este repertório. Tivemos que ir atrás dos nossos referenciais, ir ver os amigos tocarem, participar de festivais para colher informações, pegar receitas de como tocar tal coisa, como pensar tal choro, um período inesquecível e bem prazeroso. O Sergio sempre ensaiou muito com os grupos e também gosta das frases terçadas de violão e fizemos questão de trabalhar bem isso, pois ele fica feliz à beça quando sai aquele som bonito de violões fazendo as passagens… 

Revista do Choro: Como está a cena do choro na cidade de vocês, Piracicaba? Vocês estão em Piracicaba?

Conjunto Água de Vintém: Moramos todos em Piracicaba, exceto a Paulinha que é de Tatuí, mas que é agregada já. Aqui sempre teve tradição musical, isso é bem antigo. Uma forte cultura ligada ao batuque de umbigada, ao samba de lenço, à congada do Divino e outras manifestações populares. Sabemos que em 1888, Xisto Bahia, o grande cantor de modinhas passou por aqui, o que quer dizer que alguma coisa acontecia por aqui. A cidade teve vários teatros, teve o saudoso Teatro Santo Estevão, por onde passaram muitos cantores importantes, mas que foi demolido pela insensibilidade… Sabemos que um dos primeiros registros de música caipira foi feito aqui, pela Turma do Cornélio Pires, um grupo de violeiros que faziam moda, cururu, catira, isso nos anos de 1920. Teve a figura de um Erothides de Campos e sua Ave Maria, canção nacionalmente conhecida e tantos outros cantores como o Cobrinha, Pedro Alexandrino e uma série de cantores e tocadores. Ainda hoje tem o Antonio Carlos Fioravante, o Bolão, grande seresteiro, de cantar a noite toda só em Lá menor. Tem a musa Theresa Alves, grande intérprete, do tempo do rádio ainda, cantou nos anos 60 na Record. E tem da geração mais nova outros tantos compositores e instrumentistas. Um deles é o maestro Marco Abreu, figura ímpar na cidade pelo trabalho que desenvolve com big band, formou inúmeros músicos de sopro que vão fazer a história futura e um grande compositor de choros. O seresteiro Roberto Mahn tem um programa de rádio dedicado à seresta, mas que sempre leva chorão pra acompanhar os convidados, além de ser um grande cantor. Tem o Choro de Saia e o Marias de Clarices, conjuntos de choro feminino, mais um tanto de instrumentista que passou pelo Conservatório de Tatuí, como Marcos Moraes, da mesma linha do Alessandro Penezzi, inclusive tocaram juntos ao lado do pandeirista Tito Bortolazo. Temos aqui um grande pesquisador e conhecedor de música brasileira, articulista musical do jornal, além de grande chorão Rui Kleiner, que sempre cativa as rodas tocando choro com seu violino e o seu bandolim. Tem um grande cavaquinista e bandolinista que é o Rafael Barros, primo do flauta Leandro Oliveira, que são chorões dignos. E tem o Água de Vintém, que tem feito um trabalho de exposição e divulgação do choro na cidade ciente de toda essa história e que busca fazer o possível para que o gênero se perpetue. Temos um projeto em parceria com o Sesc daqui que em três temporadas trouxe para a cidade Toninho Ferragutti, Pedro Amorim, Antonio Rocha, Nailor Proveta, Toninho Carrasqueira, Ronaldo do Bandolim, Aquiles Moraes, Alexandre Ribeiro e, ainda, Cristóvão Bastos, Deo Rian e Pedro Paes. O Maurício Carrilho, que produziu o primeiro disco do grupo, tá sempre por aqui também. São coisas que alimentam o cenário e trás bons frutos. Um anseio próximo de acontecer é o Choro nas Escolas, que o conjunto está trabalhando também. Com certeza esqueci de citar alguém… 

Revista do Choro: Como está sendo a produção deste CD? Como pensam em lançar o CD?

Conjunto Água de Vintém: Está sendo um grande aprendizado, musical e humano. Estar com o Sergio é um grande prazer, sempre muito gentil, muito educado. Acho que nem sabemos a dimensão real de tudo, mas estamos fazendo de coração, tentando respeitar o máximo a obra, a linguagem e a história do Belluco, mas tendo a certeza que é algo que temos que fazer, pelo Água de Vintém e pela história do choro de nossa cidade, nós como coadjuvantes da obra do Belluco. 

Vamos esperar o resultado do prêmio do Proac, que sai ainda este ano, mas de qualquer forma, vamos pleitear esta produção, seja com financiamento coletivo, patrocínio, doação, permuta. O importante é gravarmos. Quando sair a Revista do Choro saberá imediatamente. Temos um bom contato com cidades que tem levado o choro como tradição, que está numa crescente, com muitos festivais e oficinas, muitos discos saindo. Esperamos poder circular pelo máximo de espaços para divulgar essa obra. E muita água há de rolar…

Por fim, agradecemos a vocês da Revista do Choro pelo espaço e tempo dedicado. O melhor abraço do Conjunto Água de Vintém!

 

grupoaguadevintem@gmail.com

Tel (19) 3426-6339

Cel (19) 99189-0269

Vitor Casagrande

 

Fotos do Água de Vintém: Rui Kleiner

Fotos de Sergio Belluco: Cláudio Siqueira Jr.

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Author: imprensabr

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