Entrevista com Jane do Bandolim


Nesta edição a Revista do Choro traz uma entrevista com Jane do Bandolim, uma das mulheres que levam para o mundo a escola do bandolim  brasileiro.

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Revista do Choro: Você é natural de onde? Tem quantos anos?

Jane do Bandolim: Nasci na cidade de Campinas/SP e tenho 52 anos.

Revista do Choro: Como foi inicio com a música?

Jane: Comecei a estudar bandolim com meu pai aos nove anos de idade. Meu pai cuidava da parte musical da igreja Batista e era regente de um coro de 120 vozes. 

Revista do Choro: Seu primeiro instrumento foi o bandolim?

Jane: Sim.

Revista do Choro: Qual era seu repertório quando começou a se envolver com música? Você sempre foi envolvida com o choro?

Jane: Meu repertório era música sacra, trechos de músicas clássicas, algumas canções populares americanas e rock’ n roll.

Revista do Choro: Como era o ambiente de Choro quando você começou a tocar? Você sempre morou em São Paulo?

Jane: Fui conhecer o choro quando tinha 10, 11 anos de idade, mas somente por gravação. Quando comecei a me envolver com o choro ele foi a minha escola realmente, já que na época o acesso a gravações e partituras era muito difícil. Era um ambiente fechado e tive que gastar muita palheta para entrar numa roda de choro. Sempre morei em São Paulo, porém, nesse tempo, mudamos de novo para Belo Horizonte.

Revista do Choro: E o preconceito, você sentia o preconceito por conta de ser mulher e tocar bandolim num ambiente eminentemente de homens? Como foi essa experiência?

Jane: Na época não existia, pelo menos para mim, essa coisa de: ‘olha a menininha bonitinha tocando bandolim!’. Existia a admiração, porém, como citei, tive que gastar muita palheta e estudar sozinha com gravações, correndo atrás para poder ganhar a confiança dos chorões. Teve uma ocasião que me chamaram para uma canja, o palco era pequeno e um dos músicos pediu que eu tocasse em pé, imediatamente um solista bravo falou em voz alta: aqui você toca sentada! Esse foi um episódio que me chateou muito, mesmo porque eu era criançona e não estava pensando em me auto afirmar.

Revista do Choro: Havia mais mulheres tocando Choro quando você começou a tocar?

Jane: Até que tinha, mas não eram muitas, pelo menos em São Paulo. Logo depois, começaram a surgir mais mulheres que hoje em dia se destacam no cenário.

Revista do Choro: Quem eram os Chorões que estavam gravando e tocando quando você estava iniciando sua carreira? Quem você tem como uma grande referência?

Jane: O Antonio D´Auria, do Conjunto Atlântico, violão de sete cordas referência no choro em São Paulo, o bandolinista Valter Veloso, que muito me ajudou, Isaías Bueno de Almeida, Otavinho do Cavaco, que me ensinou muito, Carioca violão de 7 cordas, Mestre Xixa do cavaquinho. Foram muitos, não quero pecar pela omissão (risos).

Revista do Choro: E o bandolim, quando entra para o seu nome ‘Jane do Bandolim’? Quando passa a assinar este nome artisticamente?

Jane: Fui convidada por Isaías Bueno de Almeida para gravar um programa na TV Cultura chamado Alegria do Choro, indicada pelo violonista João Nicolau de Almeida, o nosso querido João Macacão. No dia da gravação o pessoal da produção perguntou como era meu nome artístico e, para minha surpresa, o Dominguinhos que lá estava sugeriu Jane do Bandolim. Fiquei atrapalhada, não sabia o que fazer e com as bochechas vermelhas até que o Isaías falou: É Jane do Bandolim sim pode anotar ai!

Revista do Choro: Você acompanhou grandes nomes da música brasileira. Como foi esta experiência?

Jane: Foi muito bom porque aprendi muito e conheci muitas pessoas legais também.

Revista do Choro: Você já se apresentou em diversos países. Por onde você andou e como sentiu a receptividade do público estrangeiro ao Choro?

Jane: Na verdade toquei em Londres com amigos músicos. O choro é MUITO bem aceito lá fora, muito respeitado, inclusive. Agora, quanto aos países onde estive isso foi uma informação da internet que foi parar num texto de uns shows que ia fazer. Na verdade foi um país só, Londres.

Revista do Choro: Conte-nos como foi a criação do grupo que lhe acompanha, o Miado do Gato.

Jane: Foi logo após o Grupo Vou Vivendo no qual eu era solista, meados de 1995, por ai. Esse nome foi por conta de um gato que eu tinha; toda vez que eu estudava em casa e tocava ele adorava o som e pulava no meu colo.

Revista do Choro: Quantos discos você gravou?

Jane: Apenas dois, já era para ter gravado mais… Confesso minha preguiça!

Revista do Choro: Você é professora da Escola de Música do Estado de São Paulo, desde 2003, ocupando a cadeira de Bandolim e Prática de Choro. Como vem sendo esta experiência? Diversos alunos seus já se tornaram profissionais, deve ser muito gratificante.

Jane: O choro cresceu muito lá na escola, tem bastantes alunos dedicados, jovens sem cansaço para o choro. Meus grupos de prática de choro são grandes e competidos, isso me faz muito feliz. Alegra-me ex-alunos vivendo exclusivamente da música, arranjando, gravando e tocando bem. Isso não tem preço, cachê, salário que pague.

Revista do Choro: Como diretora musical e apresentadora do programa Oficina do Choro, na TV a cabo (qual o canal, que dia passa, que horas, tem internet, youtube? você recebe diversos grupos de Choro. Como você vê o envolvimento da nova geração com o Choro?

Jane: Este programa acabou por problemas internos, era o canal Teovision da Big TV, comprada logo em seguida pela Net. Comecei com um espaço que me foi cedido – isso em Guarulhos -, firmei o Clube do Choro daqui (moro em Guarulhos) e fazia oficinas de choro lá, gratuitas, aulas e bate papos. Esse canal esteve lá e fez uma matéria sobre o projeto, que logo em seguida virou o Programa Oficina do Choro. Iam músicos veteranos, novos músicos… Era bem bacana e as oficinas de prática de choro eram lotadas de jovens músicos interessados. Tenho gravado em DVD os programas, mas ainda não os coloquei em nenhum canal na rede.

Revista do Choro: Jane, você acompanhou excelentes músicos brasileiros, como João Nogueira, Elizeth Cardoso, Germano Mathias, Dona Ivone Lara, entre outros. Conte para a Revista do Choro algum fato marcante desta trajetória ao lado desses grandes músicos.

Jane: Dentre vários momentos legais lembro quando acompanhávamos o Jorge Costa… Tínhamos uma maratona grande de trabalho e na madrugada íamos ao Sujinho (restaurante tradicional de São Paulo) comer bisteca. Jorge Costa, cansado, sentava à mesa e cochilava. Imediatamente os garçons começavam a cantar algum samba dele. Jorge acordava sorrindo e falava… “obrigado, agora vou dormir de novo até a comida chegar”.

Revista do Choro: Numa Visão geral como você vê o Choro hoje, passadas mais de três décadas de envolvimento profissional com o gênero?

Jane: O choro cresceu muito, hoje há jovens músicos tocando choro. Vejo na escola o interesse de alunos da área erudita querendo estudar e tocar o choro. Não tem mais aquela coisa de…. ‘ah, choro é musica antiga, só os senhores que tocam!’ Isso acabou e os músicos veteranos de hoje em dia estão sempre de braços abertos para ajudar e receber esses jovens.

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Author: imprensabr

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