Uma das obras mais conhecidas da Gravadora Discos Marcus Pereira é o álbum duplo do pianista Arthur Moreira Lima interpretando Ernesto Nazareth, “Arthur Moreira Lima interpreta Ernesto Nazareth”.

Até então muito respeitado no ambiente da música erudita, com o lançamento do LP pela ‘gravadora alternativa’ o pianista se apresenta pela primeira vez como intérprete popular.

O jornal Correio Brasiliense destacou um concerto feito em Brasília pelo pianista na Sala Martins Pena, em 1975, ano de lançamento do LP, no qual, além de interpretar peças de J. S. Bach, Lima dedicou o espetáculo a tangos, valsas, mazurcas e choros de Ernesto Nazareth, todos gravados no LP da Marcus Pereira.

A nota escrita por Claver Filho, publicada no caderno de cultura, destacou os comentários feitos pelos críticos Eurico Nogueira França e Sérgio Cabral no encarte do LP.

“Segundo Eurico Nogueira França a música de Ernesto Nazareth não se pode tocar apenas pelo que está escrito: “As edições da obra de Ernesto Nazareth assumem aspecto preponderantemente comercial porque o que está grafado é antes a letra do que o espírito da música. A dinâmica e a proposta rítmica têm de ser recriadas, porque o colorido autêntico e dinâmico aliado ao ritmo não se contém nos símbolos impressos.

Já Sérgio Cabral, sem entrar em tantos detalhes, retoma a essência da afirmação de Eurico Nogueira França quando diz: Só um cara como ele (Arthur Moreira Lima, é claro), que faz do piano uma extensão do corpo e da alma e que guarda dentro de si aquela saborosa e genuína bossa carioca poderia proporcionar a emoção que causam esses dois discos. Porque, que me desculpem as pessoas mais sizudas – para se tocar Ernesto Nazareth a técnica é importantíssima -, mas a bossa é fundamental”.

O jornalista segue comentando o sucesso do espetáculo e dá ênfase ao fato de a plateia estar lotada por jovens, os mesmos que também lotavam os espetáculos de Gilberto Gil e Rita Lee.