Alfredinho Flautim: O segundo pai de Pixinguinha 1


Criado pelos pais de Pixinguinha, o flautista acabou sendo o tutor do pequeno Alfredo da Rocha Vianna

Por Leonor Bianchi

Alfredo José Rodrigues, o Alfredinho Flautim, nasceu em Juiz de Fora, Minas Gerais no dia 24 de julho de 1877 e em 1899 com 12 anos transfere-se para o Rio de Janeiro, indo morar perto da Pensão Viana, no Catumbi. Naquela região, conhecida como ‘zona do agrião’. Ali conhece o velho Alfredo da Rocha Vianna, pai de Pixinguinha e com ele toma as primeiras lições de música passando a frequentar a casa da família Vianna, diariamente.

Participante de todas as reuniões musicais, saraus e o que hoje chamamos de roda de choro, e naquele tempo era apenas baile, na Pensão Vianna, torna-se amigo de confiança e ‘chegado da casa’ do velho Vianna.

O segundo pai de Pixinguinha

O pai de Pixinguinha, Alfredo da Rocha Vianna, quando falece deixa a incumbência de ‘olhar a filharada’ com o amigo Alfredinho que passa a ser uma espécie de tutor de Pixinguinha e seus irmãos e irmãs.

Alfredinho era 20 anos mais velho que Pixinguinha e criado em sua casa era como um irmão mais velho, com direito a repreender e dar lições de moral.

Abrilhantando festejos 

Alfredinho Flautim tocou em muitas festas nos subúrbios, integrou blocos e tomou parte em diversos ranchos carnavalescos.

Foi músico no grupo do Choro do Chico da Bahiana, que animou muitos festejos da Festa da Penha, do grupo do bairro da Cidade Nova, tendo acompanhado diversos blocos de sujos que surgiam no calor do carnaval na Galeria Cruzeiro, no centro da cidade.

Em 1928 brilhou na Festa da Penha como solista do Choro do Chico da Bahiana conforme podemos ler na matéria do Jornal do Brasil de 28 de outubro de 1928: “Dentre os populares conjuntos musicais que, domingo último, emprestaram relevo aos festejos da Festa da Penha, é justo que se destaque o do Chico da Bahiana. (…) O Choro do Chico da Bahiana percorreu todos os recantos do arraial a executar, entre os aplausos gerais, os mais modernos números do seu vasto repertório, fato esse que causou magnífica impressão. Por sua vez, o Alfredinho, no flautim, ia chamando a atenção geral pela firmeza que ‘solava’ no pequeno instrumento, fazendo variações que o público aplaudiu entusiasticamente”, bradou o jornal carioca.

Jornal do Brasil de 28 de outubro de 1928 dá nota do sucesso do Choro do Chico da Bahiana na Festa da Penha com Alfredinho Flautim à frente do grupo

 

Trabalho de Choffeur 

Alfredinho passa a garantir seu sustento trabalhando como choffeur de táxi e passa a dividir sua vida de chorão com a vida de taxista, nunca deixando de compor e participar dos grupos musicais e festas que lhe convidavam.

Velha Guarda autêntico

Alfredinho e seu Flautim

 Após se aposentar como taxista, profissão que que teve durante toda sua vida, em 1951, abraçou com unhas e dentes o grupo da Velha Guarda, organizado por Almirante, em 1954. Além dele, faziam parte do grupo Pixinguinha, João da Baiana, Donga, J. Cascata, Bide da Flauta,  entre outros.

Em 1955 passou a apresentar-se na boate carioca Casablanca com o espetáculo “O samba nasce no coração”.

Com o grupo da Velha Guarda, gravou três LPs históricos. Quando do lançamento do LP “A velha guarda”, em 1955, a “Revista da Música Popular”, publicou uma reportagem sobre o disco, onde lemos: “Na face A temos o choro “Que perigo”, apresentando este indestrutível Alfredinho, que com seus setenta e tantos anos, tocando um instrumento de possibilidades limitadas como o flautim, nos brinda com uma execução difícil de ser igualada, em sua graça, frescura e desenvolvimento melódico”.

Capa do LP “A Velha Guarda” de 1955 com desenho de Lan

Autor da Célebre frase: “O Pixinguinha quando canta, semi-tona demais. Devia só tocar”.  Era o integrante mais velho da Velha Guarda e amigo mais constante de Pixinguinha.

Revista O Cruzeiro 17 de março de 1956 foto de Adelino de Araújo - Pizinguinha, João da Baiana e Alfredinho no Bar São Jorge

Célebre foto publicada em 17 de março de 1956 na Revista O Cruzeiro em matéria especial com Pixinguinha. Foto de Adelino de Araújo. Na foto, da esquerda para a direita: Alfredinho, filho de Pixinguinha, Pixinguinha, João da Baiana e Alfredinho Flautim no Bar São Jorge.

Mestre do Choro

Alfredinho Flautim era uma figura com um conhecimento do repertório do Choro e dos chorões antigos dos mais profundos. Sabia cada nota de cada polca e cada quadrilha. Uma noite, em 1956, ouvindo a rádio Tupi, na hora do programa “Pára a música”, reconheceu as notas iniciais de uma melodia que ninguém conseguia descobrir qual era, e estava acumulada no programa há semanas rendendo o prêmio de 40 mil cruzeiros para quem acertasse. Alfredinho não pensou duas vezes e ligou para rádio: “Pois não, aqui é Alfredo José Rodrigues e a música que está acumulada no programa é Fantasia ao luar de Albertino Carramona, antigo contramestre da Banda do Corpo de Bombeiros”. Qual não foi sua decepção ao saber que a produção do programa estava com a resposta para o enigma diferente da que ele acabara de dar. Alfredinho ficou uma fera, a produção estava, na verdade, com a resposta do nome da música que havia sido letrada por Catulo e renomeada pelo menestrel para Templo Ideal. A produção do programa não deu mais resposta do enigma, calou uma resposta a Alfredinho e o programa acabou sendo tirado do ar. Alfredinho ainda enviou duas cartas à emissora, mas não teve mais resposta. Assim era o Alfredinho, um cara que sabia das coisas, e com fundamento.

Em 23 de março de 1961, o jornalista Santos Pereira em sua coluna Feirinha d’a Noite, página 2 do jornal Jornal A Noite ao descrever o ‘flagrante biográfico’ de cada integrante da Velha Guarda, publicou o seguinte sobre Alfredinho Flautim: “É carioca do Catumbi (Sic!). Toca flautim de 5 chaves. “Velha Guarda” autêntico. Foi criado pelos pais de Pixinguinha. É também grande sapateador e, como solista, é quem mais conhece as manhas e nuances do nosso choro”.

A Noite 23 de março de 1961 Flagrante biográfico de Alfredinho Flautim

A Noite 23 de março de 1961 Flagrante biográfico de Alfredinho Flautim

Alfredinho Flautim faleceu no Hospital do IAPETEC (Hospital do Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Empregados em Transportes e Cargas) em 24 de outubro de 1958, 7 meses depois de Benedicto Lacerda e deixou os companheiros da Velha Guarda e muitos aficcionados tristes, Pixinguinha que havia uma ligação forte com Alfredinho sentiu muito. Todos amigos e chorões ficaram tristes, morria ali uma figura do Choro.

 

Obra

Caboclo não bebe mais

Marcelina

Recordações campistas

Samba em casa de baiana

 

Discografia

(1955) A velha guarda – Sinter-SLP • LP

(1955) Carnaval da Velha guarda – Sinter-SLP • LP

(1956) Festival da velha guarda – Sinter-SLP • LP

 

Para ouvir Alfredinho Flautim

Disco A Velha guarda de 1955

http://www.memoriamusical.com.br/pesquisa/detalheDisco.asp?iidMidia=181

Choro ‘Que perigo!’ composição de Pixinguinha com solo de flautim por Alfredinho Flautim com a Velha Guarda em 1955

https://www.youtube.com/watch?v=jvufEn1mce8

 Videos 

Thomas Farkas ‘Pixinguinha e a velha guarda do samba’ gravado em São Paulo no mês de abril 1954 e lançado em 2006

https://vimeo.com/123979024 entre 5′ 38 segundos a 5 ‘ 53 segundos há imagem em movimento de Alfredinho Flautim tocando.

 

Fontes bibliográficas:

MARCONDES, Marcos Antônio. (ED). Enciclopédia da Música popular brasileira: erudita, folclórica e popular. 2. ed. São Paulo: Art Editora/Publifolha, 1999.

EFEGÊ, Jota. Figuras e coisas da música popular brasileira. vol 2. Rio de Janeiro: Funarte, 1978.

VASCONCELOS, Ary. A nova música da república velha. Rio de Janeiro, 1985.

 

Pesquisa Hemeroteca:

Acervo Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

Jornal A Noite 23 de março de 1961

Jornal Correio da Manhã 03 de junho de 1956

Jornal do Brasil 23 de outubro de 1928

Revista O Cruzeiro 17 de março de 1956

 

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Author: imprensabr


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