Leonor Bianchi
Nair de Teffé von Hoonholtz nasceu em Petrópolis, no Rio de Janeiro, em 1886. Foi uma pintora, cantora, pianista, atriz e primeira dama. Mas ganhou fama por ser considerada por vários intelectuais e artistas como a primeira caricaturista mulher do mundo. Em 1914, quando foi primeira dama da República do Brasil, casada com Marechal Hermes da Fonseca, fez ecoar pela primeira vez o ‘corta-jaca’ e tantas canções populares naquele nobre palácio.
Filha de um rico barão e neta de um conde, Nair estudou na França. Quando voltou ao Brasil, por volta dos vinte anos, iniciou seu trabalho como caricaturista. Seus desenhos eram publicados em diversos jornais da época. Assinava como Rian (que é seu nome ao contrário, ou ‘nada’ em francês). De espírito inquieto, protagonizou a peça de Coelho Neto “Miss Love’, obtendo grande sucesso. Em seguida trabalhou no elenco de Leopoldo Fróes e criou a Troupe Rian, montando peças de diversos autores nacionais. A renda desses espetáculos era destinada à construção da igreja matriz, hoje a catedral do Rio de Janeiro.
Sempre que se apresentava no teatro ou em rodas literárias era acompanhada da família, que a acompanhava e apoiava. Em 1914, casou-se com o Presidente da República, o Marechal Hermes da Fonseca. Nair parou de fazer suas caricaturas, mas não sossegou. Organizava vários saraus no Palácio do Catete, os quais contavam com muita música popular, incluindo os sons de sua amiga Chiquinha Gonzaga. Na época esses saraus eram um verdadeiro escândalo para elite da sociedade carioca, que só aceitava música europeia nos círculos mais seletos. Nair era aluna de violão de Patrício Teixeira e uma pianista apaixonada por polcas e tangos.
Quando acabou o mandato do marido foi passar um tempo na Europa. Voltou para participar da Semana de Arte Moderna e fixar residência permanente no Brasil. Com a morte do Marechal, dedicou-se à literatura tornando-se presidente da Academia de Ciências e Letras, que mais tarde tornou-se Academia Petropolitana de Letras.
Em novembro de 1932, Nair de Teffé fundou o Cinema Rian, na Avenida Atlântica, em Copacabana.
Foi somente aos 73 anos que voltaria fazer suas caricaturas.
Escreveu seu livro de memórias aos 88 anos e em 1981, aos 95 anos, faleceu no Rio de Janeiro.
O episódio do Corta Jaca no Catete
No dia 26 de outubro de 1914, no jardim do Palácio do Catete, uma galante festa anunciava a despedida do Presidente da República Marechal Hermes da Fonseca. A primeira dama Nair de Teffé havia se esmerado e estava certa que fecharia com grande estilo sua passagem pelo Catete. No entanto, havia um detalhe na festa que a primeira dama fazia questão que fosse o ponto alto. Cansada de cerimônias oficiais onde a cultura brasileira não tinha espaço ela preparou uma surpresa que deu o que falar. Convocou o compositor Catulo da Paixão Cearense para acompanhá-la com seu violão na apresentação da música que ela considerava a mais brasileira, o maxixe “Corta-Jaca”, de Chiquinha Gonzaga. Juntavam-se na surpresa duas coisas explosivas para uma recepção diplomática: o violão, instrumento da malandragem, e o maxixe, ritmo popular considerado sensual.
A repercussão foi tanta, que o fato ganhou ares de escândalo nacional e fez com que Rui Barbosa registrasse no Diário do Congresso Nacional um violento pronunciamento:
– “Uma das folhas de ontem estampou em fac-símile o programa da recepção presidencial em que diante do corpo diplomático, da mais fina sociedade do Rio de Janeiro, aqueles que deviam dar ao país o exemplo das maneiras mais distintas e dos costumes mais reservados elevaram o Corta-Jaca à altura de uma instituição social. Mas o Corta-Jaca de que eu ouvira falar há muito tempo, que vem a ser ele, Sr. Presidente? A mais baixa, a mais chula, a mais grosseira de todas as danças selvagens, a irmã gêmea do batuque, do cateretê e do samba. Mas nas recepções presidenciais o Corta-Jaca é executado com todas as honras da música de Wagner, e não se quer que a consciência deste país se revolte, que as nossas faces se enrubesçam e que a mocidade se ria?”
Foi com esta personalidade forte e sua apreciação pela cultura popular brasileira que Nair de Teffé imprimiu sua marca nas páginas da história do Brasil.
Olá Leonor, esse episódio o Palácio do Catete envolvendo Nair de Teffé e o senador Rui Barbosa causou o maior furdúncio no Rio de Janeiro na época, Chiquinha Gonzaga, o Maxixe e o violão foram literalmente execrados por ele e pela sociedade carioca, foi o maior balaio de gatos da história.