A estreia dos Oito Batutas na ‘reabertura’ após a pandemia da gripe espanhola


Leonor Bianchi

“A gripe espanhola foi uma pandemia que aconteceu no início do século XX, resultando na morte de 50 milhões de pessoas, segundo as estatísticas tradicionais. A doença recebeu esse nome por conta da divulgação que ela teve na imprensa espanhola e aproveitou-se do cenário da Primeira Guerra Mundial para espalhar-se pelo mundo. Não se sabe onde ela surgiu, mas acredita-se que tenha sido no interior dos Estados Unidos.

Essa doença chegou ao Brasil em setembro de 1918 e espalhou-se por todo o país, alcançado até locais remotos. Ela promoveu grandes impactos nos maiores centros brasileiros, como São Paulo e Rio de Janeiro, infectando milhares de pessoas neles. A doença provocou a morte de 35 mil indivíduos em nosso território.

O nome da Gripe Espanhola faz a gente, de imediato, imaginar que se trata de uma doença que surgiu na Espanha. Entretanto, essa impressão é incorreta, pois a doença não surgiu lá, mas, como veremos, acredita-se que tenha surgido nos Estados Unidos. Seu nome tornou-se esse por conta da repercussão que a imprensa espanhola fez da doença durante os anos da Primeira Guerra.

A Gripe Espanhola surgiu quando a Primeira Guerra Mundial estava em curso. A doença  aproveitou-se do conflito para espalhar-se pelo mundo e teve grande impacto nas suas frentes. Apesar da sua forte disseminação, a imprensa dos países que estavam na guerra não tinha permissão para noticiá-la.

Essa censura fazia parte do esforço de guerra dessas nações. Filtrar a notícia de que uma pandemia estava em curso era fundamental para manter o moral das tropas e para não gerar pânico na população. A Espanha, no entanto, não estava na guerra e sua imprensa era livre. Sua cobertura foi acompanhada em todo o mundo, fazendo com que a doença recebesse o nome de Gripe Espanhola.

Até hoje, os historiadores ainda não têm evidências concretas sobre onde a doença surgiu, apesar disso, existem teorias que podem ajudar-nos a visualizar o local de seu surgimento. As principais ideias levantadas pelos estudiosos do assunto apontam que três lugares são os prováveis nesse sentido: Estados Unidos, Reino Unido e China.

Entre essas teorias, a mais é aceita aponta que os Estados Unidos foram o provável local de surgimento da Gripe Espanhola. Isso porque foi lá que se registraram os primeiros casos de pessoas contaminadas. A Gripe Espanhola consistiu basicamente em um surto causado por uma mutação do vírus Influenza, e os primeiros casos, segundo registros, aconteceram no Fort Riley, um acampamento militar instalado no interior do estado do Kansas.

Esse registro faz menção a um soldado chamado Albert Gitchell, que, em 11 de março de 1918, deu entrada na enfermaria do acampamento com sintomas de uma forte gripe. Cinco semanas depois, mais de 1100 soldados do acampamento estavam com os mesmos sintomas, e, desses, 46 morreram. A Gripe Espanhola ficou conhecida por ter ação mortal em pessoas na faixa dos 20-35 anos de idade.

Com base nos soldados norte-americanos, a doença, provavelmente, espalhou-se pelo mundo. Os Estados Unidos estavam envolvidos na Primeira Guerra Mundial desde 1917, e acredita-se que soldados enviados para a Europa tenham levado a doença consigo. Por conta da guerra, a circulação e aglomeração de pessoas era muito grande, e esse era o cenário perfeito para que a doença ganhasse força.

A atuação da Gripe Espanhola deu-se em três fases, que tiveram atuação no período de março de 1918 a maio de 1919. Dessas três ondas, a segunda, que se iniciou em agosto de 1918, foi a pior delas, porque nela o vírus mostrou sua maior capacidade de transmissão, além de ter causado mais mortes.

Foi nessa segunda onda que a Gripe chegou em continentes como a Ásia, a África e as Américas Central e do Sul. O Brasil foi um dos países afetados durante essa segunda leva. Nesse momento, a Gripe Espanhola já poderia ser definida como uma pandemia, pois havia se espalhado em grande escala.” (Site História do Mundo).

Nesse contexto nascem Os Oito Batutas

E foi nesse contexto que nasce o grupo musical que revolucionaria a música popular brasileira: Os Oito Batutas.

Sala de espera do Cine Palais, Cinelândia, Rio de Janeiro, onde a 7 de abril de 1919 estrearam Os Oito Batutas.

Sala de espera do Cine Palais, Cinelândia, Rio de Janeiro, onde a 7 de abril de 1919 estrearam Os Oito Batutas.

A estreia no Cine Palais

“A foto que ilustra o post é da primeira formação dos Oito Batutas, como eles se apresentaram na estreia, ainda segundo a onda nordestina, quando o cinema Palais reabriu após o surto da gripe espanhola, em 1919. Figuram na foto, em pé, da direita para esquerda: Pixinguinha (flauta), Donga (violão), Raul Palmieri (violão), China (voz e violão), Jacob Palmieri (ganzá); sentados, da direita para esquerda: Nelson Alves (cavaquinho), João Pernambuco (violão), Luis de Oliveira (bandola).

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Primeira formação dos Oito Batutas, como eles se apresentaram na estreia, ainda segundo a onda nordestina, quando o cinema Palais reabriu após o surto da gripe espanhola, em 1919.

O grupo Oito batutas foi um sucesso de público. Apesar de algumas críticas na imprensa pelo seu repertório e trajes populares e o preconceito com relação aos seus integrantes negros, conquistou uma plateia ilustre. Rui Barbosa, Ernesto Nazareth e o empresário milionário Arnaldo Guinle eram fãs. Mudaram os trajes nordestinos e passaram a se apresentar em saraus na mansão Guinle, onde hoje é o Palácio Laranjeiras, residência oficial do governador do Rio de Janeiro. De 1919 até o ano seguinte, Arnaldo Guinle patrocinou uma turnê dos Oito Batutas pelo Brasil. O objetivo era não só fazer apresentações musicais, mas recolher e documentar ritmos do folclore brasileiro nas cidades. Além da troca de experiências musicais, o choro carioca foi tornando-se conhecido pelo Brasil. Na volta, apresentaram-se em operetas no Teatro São Pedro (atual João Caetano), no Teatro Recreio, fizeram turnês com o teatro pelo Brasil. Apresentaram-se até na residência do presidente Epitacio Pessoa em 1921.

Consagrados no Brasil, no ano seguinte partiram para Europa. Convidados pelo bailarino Duque, o rei do maxixe, que já fazia sucesso na Europa com a dança excomungada, o grupo foi se apresentar no dancing Sheherazade, em Paris. Novamente foram patrocinados por Arnaldo Guinle. Tocaram em várias outras casas noturnas, com Jazz-Bands, e até se apresentaram para a família imperial brasileira que estava em Paris desde o fim da monarquia.

Ainda em 1922, Os Oito Batutas participaram da primeira transmissão de rádio no Brasil, feita na Exposição do Centenário da Independência. Em 1923, os Oito Batutas tomaram a forma de uma Jazz Band, mas não abandonaram as execuções de choro. Fizeram parte da Companhia Negra de Revistas, única exclusiva de artistas negros, onde Pixinguinha era orquestrador e regente. Em 1927 passaram a se apresentar no Cinema Odeon, acompanhando um casal de dançarinos norte-americanos. No ano seguinte tornaram-se atração fixa do restaurante Assírius, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, até 1931 quando o grupo se dissolveu.

A Biblioteca Nacional possui a segunda gravação do choro “Oito Batutas”, em homenagem ao grupo, com Benedito Lacerda (1903-1958). Seu maior parceiro, com ele gravou 17 discos.  

A Biblioteca Nacional tem, em seu acervo sonoro, inúmeras composições de choro, dos Oito Batutas e outros músicos: Acerta o Passo, Carinhoso, Displicente e Não Posso Mais.” (Biblioteca Nacional)

Pesquisa de conteúdo: Leonor Bianchi
Fontes: Sites da Biblioteca Nacional e História do Mundo
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Author: imprensabr