O ‘Tocador de Violão’ Claudionor Cruz: 20 anos de saudades


Em junho de 2015 completam-se 20 anos de falecimento deste ícone do choro e da música brasileira

Violonista, cavaquinista e compositor de grande atuação em regionais e nos estúdios desde a década de 1930, Claudionor José da Cruz (Paraibuna (Rio de Janeiro divisa com Minas Gerais), 1 de abril de 1910 – 21 de junho de 1995) aprendeu música na infância com seu pai, um dos integrantes da banda de sua cidade.  É um dos responsáveis por muito do que aconteceu de positivo e inovador no choro nos últimos 30 anos. Foi professor e iniciador de muitos da geração do choro dos anos 1970 e 1980, como Pedro Amorim, Paulão 7 cordas, Afonso Machado, entre outros, e foi artífice da criação de grupos como o Galo Preto (que este ano completa 40 anos em atividade). Gravou com toda uma geração de grandes cantores dos áureos tempos do rádio brasileiro. Responsável pela popularização do violão-tenor, Claudionor Cruz também tocava banjo e bandolim. Com sucessos gravados por Orlando Silva, Silvio Cadas, Augusto Calheiros, Francisco Alves, Aurora Miranda, Dircinha Batista, Nelson Gonçalves e muitos outros astros da música popular brasileira, Claudionor Cruz foi contratado da Rádio Nacional, atuando em diversos programas de auditório desta emissora e de outras, por décadas. Em 21 de junho de 2015 completaram-se 20 anos de saudades deste violonista e compositor brasileiro que a Revista do Choro evidencia agora em sua seção Memória do Choro.

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Claudionor Cruz já bem velhinho empunhando seu companheiro violão

O violão dinâmico e sua popularização através das inúmeras gravações de Claudionor Cruz

Claudionor Cruz foi um dos responsáveis pela popularização do Triolin, instrumento lançado na década de 1930 no Brasil por ele e outro grande ícone do violão brasileiro – Aníbal Augusto Sardinha, o Garoto -, que este ano tem seu centenário de nascimento celebrado.

Garoto violao tenor

Garoto com seu violão tenor

Garoto batizou ‘a viola’ de Violão Tenor, e Claudionor Cruz, já com o instrumento aperfeiçoado pela Del Vecchio (o Tenor Dinâmico), dividiu inúmeras gravações musicais ao seu lado, ambos usando o violão Tenor Dinâmico. Na nota de jornal que segue na galeria, vemos Claudinor em destaque numa apresentação de violão tenor solo na rádio Ipanema, no Rio de Janeiro, em 1943.

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Década de 1930 e a formação de seu próprio regional 

Na década 1930 formou o seu regional, Regional de Claudionor Cruz. Em 1935 teve sua primeira composição gravada; o samba canção “O tocador de violão”, uma parceria com Pedro Caetano, gravada por Augusto Calheiros, na Odeon. Em 1938 na gravadora Victor conheceu seu primeiro sucesso com a valsa “Caprichos do destino”, também feita em parceria com Pedro Caetano, gravada na voz de Orlando Silva.

Em 1939, as Irmãs Medina gravaram uma das tantas parcerias de sucesso de Claudionor e Pedro Caetano, a canção “Sepulcro de um coração”. No mesmo ano, o cantor Déo registrou o samba “Ela é”, parceria de Claudionor Cruz com Wilson Batista. Outro grande sucesso daquele ano foi o samba “Sei que é covardia…mas”. Gravada por Carlos Galhardo a música teve parceria com Ataulfo Alves, com quem compôs o samba “Pra esquecer uma mulher”, gravado por Déo na Odeon. Ainda em 1939 teve o samba “Pau que nasce torto” e o samba canção “Roubaram o meu mulato” gravados por Aurora Miranda, na Victor.

Anos 40: Samba e Carnaval

Em 1940 compôs com Wilson Batista e Pedro Caetano o batuque “Senhor do Bonfim te enganou”, registrado por Dircinha Batista e Nuno Roland. Com Ataulfo Alves e, com Valdemar de Abreu fez o samba “Tu és culpada”, gravado na Victor por Sílvio Caldas. Em 1941, Dircinha Batista gravou na Odeon os sambas “Zé Boa Vida”, parceria com José Gonçalves e “Contemplando”, com Pedro Caetano, seu maior parceiro, com quem deixou cerca de 300 músicas gravadas e editadas.

Em 1942, teve o samba “Retratinho dele”, outra parceria com Pedro Caetano, gravado por Dircinha Batista, intérprete constante das parcerias dos dois.

Em 1943 Orlando Silva gravou a valsa “Duas vidas” e Gilberto Alves o samba “É triste a gente querer”, ambas parcerias de Claudionor com Pedro Caetano. No mesmo ano, compôs com André Filho o samba “O coração reclama”, gravado na Victor por Nelson Gonçalves.

Em 1944 a marcha “Eu brinco”, outra parceria com Pedro Caetano, gravada por Francisco Alves, fez grande sucesso no Carnaval. A música teria nascido por conta de um pedido da imprensa, temerosa de um carnaval desanimado devido à guerra. Segundo seu parceiro Pedro Caetano, citado por Zuza Homem de Mello e Jairo Severiano no livro Canção no tempo:

“Havia um clima de guerra no país, com racionamento de gasolina, blecaute e muita desanimação, daí, eu e o Claudionor fizemos a música Eu brinco: “Com pandeiro ou sem pandeiro, eu brinco, com dinheiro ou sem dinheiro, eu brinco, também”, disse Caetano.

Nesse mesmo ano Claudionor passou a acompanhar gravações na Odeon com seu conjunto, tendo participado de discos de inúmeros artistas, entre os quais, Orlando Silva, Trio de Ouro, Joel e Gaúcho, Moreira da Silva, Odete Amaral, Francisco Alves, Alvarenga e Ranchinho e Jararaca e Ratinho.

Em 1945 o samba “Meus quinze anos”, parceria de Claudionor com Pedro Caetano, foi gravado com sucesso por Dircinha Batista. No mesmo ano, Carlos Galhardo fez sucesso com o samba “Disse-me-disse”, dele e de Pedro Caetano, gravado na Victor.

Em 1946, Orlando Silva gravou com Pedro Caetano na Odeon a marcha “Uma pracinha na Itália”. Nesse mesmo ano passou a acompanhar gravações na RCA Victor com Seu Regional estreando no acompanhamento de Gilberto Milfont, na gravação dos sambas “Estão vendo aquela mulher” e “Apelo”, parcerias com Pedro Caetano.

Em 1949, o grupo Quatro Azes e Um Coringa gravou seu samba “Galho de arruda”. Nesse ano, Claudionor Cruz gravou com Severino Araújo o choro “Cintilante”, parceria com José de Freitas.

Anos 50 e a atuação de Claudionor nos primeiros anos da chegada da TV ao Brasil

Em 1950, seu samba “Ivone”, parceria com Paulo Marques foi registrado por Alcides Gerardi e o samba “No meu cangote”, com Pedro Caetano, pelos Quatro Azes e Um Coringa.

Ainda em 1950, ‘o tocador de violão’ gravou na RCA Victor com o instrumentista Portinho, registrando os choros “Caboclinho”, parceria com José de Freitas e “Insinuante”, com Porto Filho. Nesse ano, gravou na Continental com Severino Araújo, os choros “Dissonante”, de Severino e “Duvidando”, parceria dele (Claudionor) com Porto Filho.

Atuou também com seu regional na gravadora Continental. Nas décadas de 1940 e 1950, seu regional foi um dos mais requisitados para gravações e apresentações em rádios. Nessa época, atuou nas rádios Nacional, Globo, Tupi e Municipal, no Rio de Janeiro. Atuou ainda nas Tvs Rio e Educativa, também na Capital Federal, na pioneira Excelsior e na TV Cultura de São Paulo.

1970: Década de homenagens e reconhecimento pela nova geração de anos dedicados à música 

Segundo o Dicionário Cravo Albim da Música popular Brasileira: “Em 1974, foi homenageado, juntamente com o parceiro Pedro Caetano com um show no Teatro João Caetano comemorativo aos 40 anos de música da dupla. Recebeu o título de cidadão do Estado da Guanabara. Em 1977, Paulinho da Viola regravou o choro “Nova ilusão”, parceria com Pedro Caetano.

Claudionor Cruz faleceu em 1995, mas depois de uma vida inteira ao lado do rádio e da imprensa, nada encontramos na bibliografia da música brasileira e imprensa que mencione o fato. Não sabendo sob quais condições ele fez seu passamento, finalizamos este artigo destacando as homenagens que ele recebeu nos anos 2000 por instrumentistas das novas gerações.

Homenagens em 2010, ano do seu centenário

Em 2009, foi homenageado pelo grupo Terno Carioca com o CD “Terno Carioca interpreta Claudionor Cruz”, que incluiu, entre outras, suas composições “Predileto”; “Cintilante”, com José de Freitas, e “Disse me disse” e “Este choro é meu pranto”, as duas com Pedro Caetano.

Em 2010, por ocasião do centenário do seu nascimento foi homenageado com um show no Teatro Municipal de Niterói com o grupo Terno Carioca integrado por Lena Verani, na clarineta; Luiz Flávio Alcofra, no violão e Pedro Aragão, no bandolim e no violão tenor. Na ocasião foram interpretadas obras suas como “Nova ilusão”, “Caprichos do destino”, “Sei que é covardia”, “Eu brinco” e “A felicidade perdeu meu endereço”, entre outras”.

 Musicografia básica

  • A felicidade perdeu meu endereço (c/ Pedro Caetano)
  • A vida é amor (c/ Pedro Caetano)
  • Alá! Alá! (c/ Pedro Caetano)
  • Apelo (c/ Pedro Caetano)
  • Caboclinho (c/ José de Freitas)
  • Caboclo feio (c/ Pedro Caetano)
  • Caçula (c/ Cláudio Ribeiro)
  • Cais do porto (c/ Pedro Caetano)
  • Canção da mãe distante (c/ Pedro Caetano)
  • Caprichos do destino (c/ Pedro Caetano)
  • Cintilante (c/ José de Freitas)
  • Contemplando (c/ Pedro Caetano)
  • Choro para Curitiba (c/ Cláudio Ribeiro e Gerson Bientines)
  • Dengozinho (c/ Roberto Martins)
  • Disse me disse (c/ Pedro Caetano)
  • Duas vidas (c/ Pedro Caetano)
  • Duvidando (c/ Porto Filho)
  • É triste a gente querer (c/ Pedro Caetano)
  • Ela é (c/ Wilson Batista)
  • Ele disse adeus (c/ Marino Pinto)
  • Engomadinho (c/ Pedro Caetano)
  • Errei (c/ Ataulfo Alves)
  • Estão vendo aquela mulher (c/ Pedro Caetano)
  • Este choro e o meu pranto (c/ Pedro Caetano)
  • Estou no Rio (c/ Cláudio Ribeiro)
  • Eu Amo Curitiba (c /Cláudio Ribeiro e Gerson Bientines)
  • Eu brinco (c/ Pedro Caetano)
  • Eu não sabia (c/ Pedro Caetano)
  • Eu Gosto de Você (c/ Cláudio Ribeiro)
  • Exaltação ao sonho (c/ Pedro Caetano)
  • Falta-me alguém (c/ Pedro Caetano)
  • Feia (c/ Pedro Caetano)
  • Framboesa (c/ Pedro Caetano)
  • Frases decoradas (c/ Pedro Caetano)
  • Galho de arruda
  • Há mais de uma semana (c/ Pedro Caetano)
  • Haja carnaval ou não (c/ Pedro Caetano)
  • Insinuante (c/ Porto Filho)
  • Ivone (c/ Paulo Marques)
  • Já sei sorrir (c/ Ataulfo Alves)
  • Já sou feliz (c/ Pedro Caetano)
  • Jandira (c/ Geraldo Queiroz)
  • Marieta (c/ Pedro Caetano)
  • Me dá, me dá (c/ Ismael Neto)
  • Meus quinze anos (c/ Pedro Caetano)
  • No meu cangote (c/ Pedro Caetano)
  • Nova ilusão (c/ Pedro Caetano)
  • O amor vem depois (c/ Pedro Caetano)
  • O coração que te quer (c/ Pedro Caetano)
  • O coração reclama (c/ André Filho)
  • O homem não deve chorar (c/ Valdemar de Abreu)
  • O Senhor do Bonfim te enganou (c/ Pedro Caetano e Wilson Batista)
  • O tocador de violão (c/ Pedro Caetano)
  • Oh! Rosa (c/ Pedro Caetano)
  • Onde estão os tamborins (c/ Pedro Caetano)
  • Pau que nasce torto
  • Paz com briga (c/ Pedro Caetano)
  • Poesia (c/ Cláudio Ribeiro e Homero Réboli)
  • Pra esquecer uma mulher (c/ Ataulfo Alves)
  • Precaução (c/ Pedro Caetano)
  • Quem tem dinheiro (c/ Pedro Caetano)
  • Retratinho dele (c/ Pedro Caetano)
  • Rio de Janeiro (c/ Pedro Caetano)
  • Roubaram o meu mulato
  • Sei que é covardia… mas (c/ Ataulfo Alves)
  • Senta lá na mesa (c/ José Gonçalves)
  • Sepulcro de um coração (c/ Pedro Caetano)
  • Sete e meia da manhã (c/ Pedro Caetano)
  • Show sem fim (c/ Pedro Caetano)
  • Tempestade d’alma (c/ Pedro Caetano)
  • Tormento (c/ Pedro Caetano)
  • Tu és culpada (c/ Valdemar de Abreu)
  • Tudo faz falta (c/ Pedro Caetano)
  • Um minuto somente (c/ Pedro Caetano)
  • Um pouquinho de carinho (c/ Pedro Caetano)
  • Uma ilusão (c/ Paulo Mayer)
  • Uma pracinha na Itália (c/ Pedro Caetano)
  • Uma serenata… uma despedida (c/ Pedro Caetano)
  • Vem para os braços meus (c/ Ismael Neto)
  • Você quer paz (c/ Cláudio Ribeiro)
  • Vou buscar minha Maria (c/ Ataulfo Alves)
  • Zé Boa Vida (c/ José Gonçalves)

 

Tributo a Claudionor Cruz no Bandolim de Ouro em Maio de 2015

Caprichos do Destino

 

Clássica entrevista (completa) com Claudionor Cruz no Programa Ensaio

 

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Author: imprensabr

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